O ANGU DO PAPA
Há pouco mais de um mês escrevi o seguinte: “O Papa Bento XVI anuncia que abandonará o cargo por estar velho demais. Levando em consideração a trajetória deste senhor, custo a crer que a velhice seja o fator preponderante para esta tomada de decisão. Não sou lá muito chegado à teorias conspiratórias, mas acredito que tem caroço neste angu. Anotem e aguardem”. Passado algum (pouco) tempo, tantas coisas vieram à tona que os primeiros leitores a reagirem negativamente ao que escrevi calaram-se logo.
Tão logo o Habemus Papam foi sussurrado na janela do Vaticano por um cardeal decrépito, uma onda de otimismo varreu o mundo católico, com particular delírio na tão-tão-distante Argentina: “Tenemos Papa!”
Passados alguns dias as coisas tornaram-se mais complicadas, ao contrário do que imaginavam os mais otimistas observadores. O angu, que já era cheio de caroços, piorou com a chegada do Francisco. Afinal de contas, se Jorge Bergoglio é da mesma linha de Joseph Ratzinger terá que enfrentar as mesmas adversidades. E para que os leitores tenham uma ideia do nível em que se encontra os bastidores do Vaticano, compartilho com vocês um vídeo encaminhado por um leitor. Em Berlim, numa cerimônia pública do dia 22 de Setembro de 2011, onze dos dezessete cardeais presentes, recusaram-se a apertar a mão de Bento XVI. Obviamente que poderão surgir desculpas alegando desconhecimento protocolar de uma ou outra parte, mas o que fica claro é a imagem triste de um velhote, caminhando cabisbaixo, com um sorriso amarelo no rosto, a implorar que subordinados seus lhe apertem a mão.
Tristes e constrangedoras, as imagens mostram o tamanho dos caroços existentes no angu deixado pelo papa.
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Separada da fé e da doutrina, toda igreja é uma instituição, e como tal possui cargos, funções e protocolos muito bem definidos.
Entretanto aceitar e obedecer a um chefe, nem sempre significa anuência às suas atitudes e filosofias; não somos capazes de abonar a presidência que a democracia elege, quiçá um representante mundial nomeado por 120 “escolhidos”.
O que nos acalenta é saber que, mesmo numa estrutura tão conservadora como a Igreja (instituição) Católica, existem “funcionários” que não concordam com seu “chefe” e o fazem de maneira pública.
Compartilho a opinião de que a velhice foi um pretexto fraco para renunciar ao sumo pontificado, e que esse angu pode ser mais indigesto do que imaginamos. Mas o essencial é lembrar que a voz de Deus , seja ele Krishna ou Alá, não sai da boca dos sacerdotes, e sim dos corações que tem fé.
O rebanho precisa, sim, de um bom pastor… e espero que o estômago de Jorge Bergoglio seja mais forte que o apenas um pulmão que lhe restou, ou talvez daqui a alguns anos a desculpa seja a tuberculose!