CÓPIA DE FALSIFICAÇÃO AGITA O MUNDO MUÇULMANO
Se a Igreja Romana tem uma fraude medieval para embasar algumas crenças, os muçulmanos acabam de encontrar o seu próprio Santo Sudário.
O Museu Etnográfico de Ancara, na Turquia, apresentou ao público aquela que para eles está sendo considerada “uma das bíblias mais antigas do mundo”. Tendo alegados 1500 anos, o exemplar é feito de páginas de couro, foi avaliado em 20 milhões de Euros e está sendo restaurado por especialistas para posterior exposição pública.
Escrito em siríaco, um dialeto aramaico, é apontado, erroneamente, por algumas correntes como “o idioma que Jesus falava”. Segundo diversos críticos, esta suposta versão é explosiva, por contradizer o Novo Testamento, aproximando-o de uma visão de Jesus segundo o islamismo.
A celeuma provocada em torno da apresentação deste achado arqueológico está permeada de erros grotescos. Veja a seguir as incoerências mais importantes a serem destacadas.
LIVROS OU LIVRO?
Primeiro, não se trata de “uma das bíblias mais antigas do mundo”. O termo Bíblia é empregado aqui de forma equivocada e visa dar ao achado uma aura de livro sagrado. Como se trata de um único texto, o mais correto seria utilizar simplesmente a expressão LIVRO, que em grego é a palavra é βίβλιον. Se o exemplar apresentado em Ancara fosse composto de dois ou mais LIVROS, aí sim poderíamos utilizar a expressão BÍBLIA, que no grego é βίβλια.
O IDIOMA DE JESUS
Aramaico não era “a língua que Jesus falava”. Pode até ser que fosse “uma das línguas”, mas não “a língua”, como insinuou o diretor Mel Gibson no seu famigerado A Paixão do Cristo.
Jesus cresceu na região de Nazaré onde o aramaico era um idioma corrente, mas como judeu ele falava o Hebraico, que era a língua do seu povo, do seu país e da sua religião. É claro que como habitante de Nazaré, Jesus conhecia o aramaico. E como homem culto, sabia também grego e latim. Aliás, esta capacidade de ser poliglota sempre foi uma das marcas dos judeus e até mesmo nos dias de hoje, no moderno Estado de Israel, é comum encontrarmos judeus que conhecem e dominam quatro ou mais idiomas com facilidade. Entretanto, no dia a dia a língua utilizada é o hebraico. O mesmo acontecia nos tempos de Jesus.
CONTRADIÇÕES COM O NOVO TESTAMENTO
O suposto “Evangelho de Barnabé” pode ser contraditório em alguns termos, mas não em relação ao conteúdo do Novo Testamento em si. Se não nos detivermos nos pormenores exegéticos, veremos que o tal “evangelho” nada mais é do que uma compilação de diversos textos dos 66 livros canônicos reconhecidos. É como se fosse o esboço de um sermão recheado de citações. Não há nele, grosso modo, quase nada do que não encontremos em livros reconhecidos, como a Epístola aos Romanos.
Agora, o grande problema do texto, que possivelmente date da Idade Média, é justamente este: O fato de ter sido escrito na Idade Média. Ora, todos nós sabemos que aquele foi um tempo em que todo tipo de crendice e lenda invadiu o seio da Igreja.
Esta é a principal razão pela qual, ao contrário do que dizem alguns estudiosos, o Evangelho de Barnabé não “aproxima” o Jesus Bíblico do Jesus do Alcorão. O Jesus do Alcorão é um homem menor, subestimado, quase que impotente. O que diferencia-se totalmente do grandeza do Jesus Histórico.
O que mais vem agradando os muçulmanos, é que os textos compilados pelo suposto Barnabé concentram-se justamente na crítica aos judeus religiosos, que não aceitaram o cumprimento da Lei no messiânico Jesus.
Para entendermos as razões da seleção específica destes trechos, é importante saber que na época em que apareceram as primeiras cópias do Evangelho de Barnabé, em plena Idade Média, havia um forte sentimento antissemita no meio católico romano. E a Teologia da Substituição já causava estragos entre os remanescentes da verdadeira Igreja de Cristo. E foi à partir destes dois movimentos, antissemitismo e Teologia da Substituição, que a Igreja perdeu o equilíbrio da presença de judeus e gentios, passando a ser frequentada majoritariamente por gentios.
Analisando-se historicamente as duas origens, percebe-se que assim como no caso do Sudário de Turim, o Evangelho de Barnabé nada mais é do que uma daquelas fantasias criadas em meados do nebuloso século XV. E os estudiosos mais críticos não tem dificuldade nenhuma de encontrar neste livro, muitos detalhes que permeiam as obras engendradas por monges reclusos nos mosteiros católicos da Idade Média.
BARNABÉ, NATURAL DE CHIPRE.
Há quem defenda que Barnabé também foi discípulo de Gamaliel, um respeitado rabino da época. Se esta suspeita histórica foi correta, tal como Paulo, Barnabé teria sido um homem bastante culto. Assim sendo, é natural que fosse mais versado no grego e no hebraico do que no aramaico. Enquanto grego e hebraico eram idiomas universais para os judeus, o aramaico era um idioma regional, circunscrito a região de Nazaré.
Se Barnabé falava grego e hebraico e nasceu no Chipre, por qual razão teria escrito uma obra em siríaco? Iria ele se aventurar a escrever num dialeto que predominava numa região onde ele não vivera? Aventura-se-ia a escolher uma língua que não dominasse desde o berço para escrever uma obra tão importante?
Outra prova da inconsistência da autoria do texto é a confusão que o escritor faz entre os termos “Messias” e “Cristo”. Ambos significam “Ungido”, mas o livro afirma que Jesus teria dito ser o Messias, mas não o Cristo. Ora, os dois termos, um em hebraico e outro em grego, significam a mesma coisa.
O PEIXE OU A CRUZ?
Por fim, as diversas referências que o texto do Evangelho de Barnabé traz em relação à simbologia da cruz, também é outro fator que pesa contra a atribuição da autoria do texto ao Barnabé bíblico. Na época do Barnabé de Chipre, o símbolo que mais identificava os cristãos era o peixe, sendo que a cruz passou a ter importância simbólica apenas após a suposta conversão do Imperador Constantino.
Sem dúvidas, o exemplar exposto em Ancara tem tudo para criar polêmica e ser mais uma das armas utilizadas pelos muçulmanos na sua milenar batalha contra os judeus. Se a Igreja Católica tem uma fraude medieval para embasar algumas das suas crenças, os muçulmanos acabaram de encontrar o seu próprio Santo Sudário.
VEJA VÍDEO SOBRE A DESCOBERTA
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“E este tema vem de encontro à corrente vigente na época, marcada pela predominância de um antisemitismo latente, bem como de uma incipiente introdução da Teologia da Substituição na Igreja, que até então era marcadamente judaica-cristã.”
Caro Roberto, Shalom, como você está passando? E sua preciosa família? Hoje escrevo-te porque não entendi este paragrafo acima que você escreveu: por favor, queira explicar-me. Oque era marcadamente judaico-cristã? O antissemitismo latente e a introdução da teologia da substituição não é marcadamente CRISTÃ? Queira explicar-me, por favor, porque estou confusa. SHALOM PLENA PARA VOCÊS TODOS!!!
Shalom, Maria Lúcia. De fato o texto estava confuso. Devia estar meio grogue pela medicação no momento em que o escrevi (risos). Tentei clarear um pouco mais. Releia-o e veja se ficou mais compreensível. E muito obrigada pelo seu feedback, ajudou-me muito. Shabat Shalom.
Que notícia, irmão!
“Uma visão de Jesus segundo o islamismo”. Quanto mais atacam a Bíblia, mais Ela entra em evidência. Venha o que vier, mas A Palavra do SENHOR dura para sempre!
Muito bem, irmão, sempre atualizado. Paz!!
Toda descoberta de documentos antigos é interessante. O problema é que junto com eles muitas vezes vem as confabulações sem sentido. Essa história de que esse documento teria sido escrito por Barnabé é nada mais do que imaginação. É interessante que os cristãos, já nos primeiros séculos, utilizaram o nome de Barnabé para dar autoridade a alguns de seus escritos não canônicos. A Epístola de Barnabé, por exemplo, foi encontrada junto ao o Códice Sinaítico, no mosteiro de Santa Catarina. Ela data por volta do século IV a.C., mas é consenso entre os estudiosos de que não foi Barnabé o autor da carta, tratando-se apenas de um caso de pseudonímia. Outra coisa que me chama atenção é que o documento, pelo pouco que pude observar, possui todo o Novo Testamento… Bem, há algumas versões siríacas do Novo Testamento, as mais antigas datando do século IV a.C. Contudo, geralmente as versões siríacas têm todos os “livros” do Novo Testamento em um único volume, o que parece que acontece com o documento… Bem, também é natural se este documento for uma cópia ruim do Novo Testamento, cheio de interpolações e comentários marginais. Isso não traz qualquer temor para quem estuda os manuscritos com seriedade. Isso porque temos entre cópias completas e fragmentos, cerca de 6000 documentos em língua grega do Novo Testamento… Quanto ao mais, só depois de estudar-se documento é que vamos saber mesmo de que se trata, qual a sua datação etc. Parabéns ao Notícias de Sião, pois tive essa informação em primeira mão. Obrigado…
As observações do Assis Nogueira, competente autor do Blog Bíblia e o Mundo Antigo, complementam o texto do Blog e apresenta correções históricas importantes. Sou grato ao Assis pelo comentário que classifico como adendo ao post. Adendo de qualidade indiscutível, uma vez que Assis Nogueira é mestre em estudos clássicos e membro da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC).
Errata: quis dizer que geralmente as versões siríacas não têm todos os livros do NT em um único volume…
TODAH RABÁ!!!
É um livro apócrifo.