COISAS QUE ESTRANHEI EM ISRAEL PARTE I: O BANHO
Morando em Israel fiz questão de me submeter a uma imersão total no Hebraico. Se for para aprender esse idioma complicado, vou mergulhar de cabeça, pensei. Trago para casa todos os jornais que me dão. Israel é um paraíso para quem gosta de ler, pois há jornais gratuitos (e bons) em praticamente todas as cidades. Pego jornais, aceito folhetos, fotografo placas para ler depois e, principalmente, ouço rádio. Não entendo nada, mas ouço.
Um dia desses, lá estou eu ouvindo o belo repertório judaico quando, subitamente, uma melodia conhecida invade o ar. “Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Uma rádio de Tel Aviv tocando a famosa “País Tropical”, do brasileiríssimo Jorge Ben. Reconheci a melodia, mas não entendi nada da letra. Aliás, algumas coisas davam para reconhecer. Na versão para o hebraico a letra diz que a namorada se chama “Teressa” e o cantor também tem um violão. Mas nada de Fusca nem tampouco de Flamengo, como na música original.
Foi super estranho ouvir um grupo judeu cantando que “mora num país tropical”. Tão original quanto japonesa loira. De tropical mesmo isso aqui não tem nada. O que é uma tortura para quem, como eu, gosta de um bom banho tropical.
Até agora não me acostumei com os banhos daqui. Começa que a maioria dos banheiros não dispõe de chuveiros. Eles são equipados com uma ducha móvel que você modula na altura que quer e/ou retira do gancho e toma banho se aspergindo. Nada mais incômodo. Até parece que a artimanha é proposital, assim os banhos são rápidos. E é possível que este seja o objetivo: levar o cidadão a tomar banhos rápidos para gastar o mínimo de água possível. Água é artigo de luxo em Israel.
Outro artifício para controlar o tempo do banho é o temporizador do aquecedor. Do lado de fora do banheiro tem um termostato temporizado. Você o aciona programando quantos minutos deseja de banho. Começa então uma contagem regressiva, como aquelas das máquinas digitais que permitem programar o disparo para que o fotógrafo apareça na fotografia. Uma vez acionado, você corre para o banho. E deve terminá-lo antes do tempo esgotar, senão a água fria cai nas suas costas. Claro que você pode programar 60 minutos e não terá problemas. Mas, com a água a um preço estratosférico, o melhor mesmo é tomar banho como quem corre 100 metros rasos.
Além do banho, temos que lavar louças, roupas e o chão. Bem, para reduzir o consumo de água lavando louças usam-se muitos descartáveis. Copos, pratos e talheres plásticos estão por todos os lados. E o material é bom. Acabou de almoçar, se pega pratos e talheres e… lixo. Uma maravilha para as donas de casa. Da janela do meu apartamento flagrei uma pilha de pratos jogados no lixo. Como eram oito, pode ser apenas que alguém não gostou de ter um jogo incompleto em casa e jogou fora. Mas, pela experiência que temos tido, estou quase que certo de que foi algum marido que se cansou de pedir para a mulher usar os descartáveis e, depois de checar uma conta alta, descartou os de porcelana que havia em casa.
Quanto a lavar roupas, nada de tanque nas áreas de serviço. Isso mesmo, não há tanque! As roupas são lavadas em máquinas e as cidades grandes são generosas na oferta de lavanderias comerciais. Você chega, coloca moedas em nas máquinas e pronto. É só esperar. Sem contar que ainda existem alguns produtos interessantíssimos, como um sabão líqüido que vem num tubo, como se fosse creme dental, para lavagens à mão na própria pia do banheiro. Minha esposa acha uma maravilha, pois certas peças pequenas são facilmente lavadas com este produto.
Mas, o que minha esposa aprovou mesmo foi um pano de chão descartável. No mesmo estilo dos lenços umedecidos que se usa na assepsia de bebês, os “panos” vêm em sachês com 10 unidades cada um. Além de super cheirosos, são baratos. Usa-se e joga-se fora. Confortos de uma sociedade moderna que precisa lidar desesperadamente com a questão da escassez de água.
Para terminar, convido você a assistir o vídeo abaixo. Trata-se de uma propaganda veiculada na TV local que mostra a importância de se evitar gastar água desnecessariamente. Na medida em que fala da situação da água em diversas regiões do mundo, a atriz – e tudo o que a rodeia – vai se ressecando. O comercial termina com o dramático apelo para que os israelenses poupem água.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=KGfV92RlkAY&feature=player_embedded]