CONHEÇA MAIS SOBRE UM DOS GRANDES LÍDERES DA HISTÓRIA DE ISRAEL – Parte II
“Gostaria de ter começado a vida à partir dos 15 anos, a idade que tinha ao chegar à Israel. Reescreveria com gosto a minha história, como se não tivesse nascido noutro local, como se não fosse um filho da Diáspora.”
Doze artigos ao longo de 12 meses para celebrar os 90 anos de Shimon Peres.

O OLEH QUE VIROU SABRA
Evidentemente, gosto de ser brasileiro. E viajar pelo mundo apresentando-se como tal tem lá suas vantagens. Mas, se pudesse escolher preferia ter nascido em outro país. Se meus avós maternos ao deixar a Holanda tivessem tomado outro rumo que não as Américas, talvez eu tivesse nascido em Eretz Israel, o que muito me agradaria.
Não estou sozinho neste irrealizável desejo, Shimon Peres me acompanha. Em conversa com David Landau, autor com quem co-escreveu “Ben-Gurion: A Political Life”, Peres confidenciou que gostaria de ter começado a vida à partir dos 15 anos, a idade que tinha ao chegar à Israel. Reescreveria com gosto sua história, “como se não tivesse nascido noutro local”, disse ele, como se não fosse um filho da Diáspora.
Entretanto, Peres não nasceu em Israel e sim na Polônia. Ao chegar à Terra Santa tudo fez para se parecer com um “sabra”, nome pelo qual eram chamados os judeus nativos da terra. Das roupas ao comportamento, copiava cada gesto, mas o sotaque europeu continuamente o traía.
Para aproximar-se da terra e adquirir o estilo “sabra”, Peres escolheu morar em Ben-Shemen, um moshav histórico, fundado em 1905. A carta de qualificação pessoal, exigida pelo sistema e endereçada aos dirigentes, foi um ode de amor sionista e serviu de base para o primeiro artigo desta série de textos em homenagem aos 90 anos de Shimon Peres.
Para além da lida diária com a terra, Ben-Shemen influenciou na formação cultural de Peres, que já viera enriquecida do contacto que tivera com o avô, um respeitável rabino na Polônia. No moshav, Shimon Peres tornou-se próximo do diretor da escola, Dr. Siegfried Lehman, um intelectual alemão, através do qual conheceu obras clássicas da música, artes e literatura universais. Lehman era também amigo pessoal de Albert Einstein a quem o moshav ofereceu um modelo do sistema solar, totalmente feito em ferro, e que serviu de base para muito dos estudos feitos pelo grande cientista judeu.

ISRAEL, ISAÍAS, BEN-SHEMEN E SHIMON PERES
Quando os Manuscritos do Mar Morto foram encontrados nas cavernas de Qumran em meados da década de 40 do século XX, a Ciência teve a prova que precisa para um série de questionamentos que até então eram feitos. Um dos mais importantes foi destacado pelo professor Julio Trebolle Barrera, membro da equipe internacional de editores responsáveis pela análise dos pergaminhos: “O rolo de Isaías”, afirmou Trebolle Barrera, “fornece prova irrefutável de que a transmissão do texto bíblico, durante um período de mais de mil anos pelas mãos dos copistas judeus, foi extremamente fiel e cuidadosa.
Shimon Peres já morava há alguns anos em Israel quando os rolos foram encontrados e não precisava de “prova científica” nenhuma para acreditar que o seu povo tinha uma profunda ligação com aquela Terra. Entretanto, as antiquíssimas cópias do livro do Profeta Isaías não só reforçavam os argumentos judaicos em relação à sua terra como acabaria por cruzar diversas vezes com a história pessoal do líder israelense. O próprio moshav Ben-Shemen tinha na sua gênese um versículo do livro: Isaías 2.5. Mas, para entender um pouco mais esta desconhecida parte da História, precisamos recuar no tempo, até ao final do século anterior.
Entre 1882 e 1885, vinte e três anos antes da chegada de Peres a Israel, um outro grupo de sionistas se instalou nas cercanias daquelas terras fugindo de uma onda de pogroms perpetrados pelo czar russo Alexandre III. A onda sistemática de perseguição e morte (pogrom) fez com que centenas de judeus russos emigrassem em massa para Eretz Israel. Parte destes refugiados fincou bases nas proximidades do futuro moshav e foram eles quem acabaram por dar forma àquela comunidade. A maioria desses imigrantes faziam parte de um grupo sionista – talvez o primeiro organizado – cujo nome Bilu (ביל”ו), era um acrônimo formado à partir das iniciais de algumas palavras do versículo 5 do capítulo 2 de Isaías: “בית יעקב לכו ונלכה”(vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do Senhor”).
A inspiração bíblica fica mais clara quando vemos que o nome do moshav foi tirado de outro versículo daquele livro. Ben-Shemen (בן שמן) significa “fértil” e é a forma como o profeta se refere a uma vinha em Isaías 5.1: “O meu amado tem uma vinha num outeiro fértil”.
O tempo passado no moshav marcou definitivamente a vida do grande lider. Em junho de 1939 foi publicado na Bamaaleh, a revista da Juventude Trabalhista, um texto de Shimon Peres, que tinha então apenas 16 anos. E é com excertos deste texto que concluímos a segunda matéria desta série de artigos em homenagem aos 90 anos de Szymon Perski, ou melhor, Shimon Peres.
A COLHEITA
Uma manhã molhada de orvalho, pego na minha foice e vou para o campo. “Se continuares a pegar na foice assim”, ri-se um dos colegas, “vais colher cabeças, e não trevos”. Corrijo meu erro. O meu amigo afia a sua foice como um agricultor veterano, enquanto eu corto as mãos. Apenas ao fim de longos momentos é que a foice nas minhas mãos se torna afiada como uma lâmina. Basta-lhe tocar nos trevos – e muitos pés caem no chão. Outro golpe, e mais outro – e os trevos já cortados fazem um grande monte. Lentamente, habituo-me aos movimentos. A foice corta como se sozinha… É o momento de descansar, e deitamo-nos num grande monte, roendo pés de trevo; são suculentos e deliciosos.
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