PELOS PRÓPRIOS PALESTINOS
O palestino Abdel Karim Shrair foi preso em 2008 e depois de quase três anos sob tortura foi executado por um pelotão de fuzilamento. O Hamas proibiu a família de realizar o enterro e quando a mãe tomou o corpo do filho nos braços foi brutalmente espancada.
A Human Rights Watch (HRW) disse nesta quarta-feira que as forças de segurança do Hamas na Faixa de Gaza cometem abusos desenfreados contra prisioneiros palestinos, incluindo espancamentos com bastões de metal e mangueiras de borracha. Além do mais, simulam execuções públicas e efetuam detenções arbitrárias. O comunicado desta organização de direitos humanos também pede que o grupo militante islâmico reformule seu sistema penal.
Num relatório denso, a HRW documentou uma longa lista de abusos contra palestinos na Faixa de Gaza executados pelo Hamas ao longo dos últimos cinco anos. “Há ampla evidência de que os serviços de segurança do Hamas estão torturando pessoas em custódia de forma impune e negando aos prisioneiros os mais básicos direitos”, disse Joe Stork, vice-diretor para o Oriente Médio do grupo que é sediado em Nova York. “As autoridades de Gaza devem parar de ignorar os abusos e garantir um sistema de justiça que respeite os direitos dos palestinos“, concluiu o dirigente.
O Hamas tomou o controle de Gaza em 2007, depois de uma sangrenta batalha contra seus irmãos do Fatah, e desde então os palestinos foram divididos entre a facção do Primeiro Ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, que controla Gaza, e a do Fatah, do Presidente Mahmoud Abbas, que governa partes da Judeia e da Samaria.
A HRW disse que baseou suas conclusões em entrevistas com pessoas que foram vítimas de abusos, familiares de palestinos presos, além de advogados, juízes e grupos de direitos palestinos em Gaza. A HRW analisou também diversos arquivos de casos e decisões judiciais.
Nas 43 páginas do relatório há todo tipo de denúncia, como o caso de Abdel Karim Shrair, que foi preso pelo Hamas em Agosto de 2008 e torturado por três semanas. Shrair enfrentou abusos nas mãos dos agentes de segurança de Gaza e teve cerceados os direitos de receber visitas. A acusação que pesava sobre Shrair é que ele colaborava com as autoridades de Israel. Seu advogado, também palestino, nega as acusações e diz que a suposta confissão foi obtida através de severas torturas.
Safia Ahmad Shrair, mãe de Abdel, disse à HRW que quando foi autorizada a vê-lo, em Outubro de 2008, suas pernas e rosto estavam machucados, seus pés estavam inchados, as mãos e os braços tinha marcas de corda, e o peito tinha marcas de queimaduras.
Abdel Karim Shrair foi executado em 2011 por um pelotão de fuzilamento do Hamas. O Hamas proibiu a família de realizar o enterro e quando a mãe tomou o corpo do filho nos braços foi brutalmente espancada com paus.
A HRW afirma que tais práticas não se limitam à suspeitas de crimes políticos, o relatório cita como exemplo o caso de um homem, que por medo de represálias é identificado apenas como Advogado “Y”, que foi preso por fraude pela polícia do Hamas e que teve o escritório saqueado, o passaporte confiscado e os arquivos dos clientes violados.
“Y”, que negou todas as acusações, foi amarrado a uma cama e surrado com uma mangueira de borracha e bastões de metal. Foi forçado a beber água sanitária que, juntamente com outras formas de tortura o fez perder a consciência.
Este advogado disse a HRW que recobrou a consciência em um hospital de Gaza onde os “interrogadores” continuaram a espancá-lo. Em seguida amarraram suas mãos atrás das costas e seu corpo foi suspenso junto à grade de uma janela onde permaneceu por várias horas.
O relatório disse que muitos palestinos que foram torturados evitam depor aos representantes da HRW temendo represálias por parte do Hamas. A organização humanitária disse ainda que os funcionários do hospital se recusam a liberar os prontuários de vítimas de tortura para evitar que sejam usados como prova.
O relatório também acusou a polícia ligada ao Hamas de fazer detenções aleatórias, sem mandados, às vezes detendo membros da família do suspeito como tática de pressão psicológica. As pessoas muitas vezes são detidas sem acusação e são impedidas de terem acesso a advogados e familiares.
A Human Rights Watch instou o primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, a reforma o sistema de justiça criminal de Gaza de modo a acabar com as prisões arbitrárias e garantir que os civis sejam julgados por tribunais civis. Foi pedido ainda que o Hamas se comprometa a proibir a prática de torturas e que façam outras alterações visando a proteção dos direitos humanos.
Embora o grosso das denúncias envolvam o Hamas da Faixa de Gaza, o relatório menciona também a Autoridade Palestina responsável pelo controle de partes da Judeia e Samaria que estão sob controle do Fatah. Nesta região muitas prisões são também arbitrárias e os detidos sujeitos a vários tipos de tortura.