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Terrorismo

Os 20 anos do atentado na Pizzaria Sbarro

É difícil dizer qual atentado terrorista foi o pior da história. Todos são. Independentemente da forma como é perpetrado, do número de vítimas ou das motivações, um atentado terrorista é sempre uma ação covarde.

Se o atentado visa alvos e situações de guerra, como o realizado contra Adolf Hitler pelo coronel Claus Schenk von Stauffenberg, em 20 de julho de 1944, ele não deve ser considerado “terrorista”, mas sim ação de guerra. Entretanto, quando o atentado envolve civis inocentes e despreparados, nada justifica, passa a ser uma atitude inqualificável. E mais inqualificável ainda é quem o executa.

E inqualificável é o que aconteceu em 9 de agosto de 2001, no auge das férias de verão, na Pizzaria Sbarro, localizada na esquina da Rua King George com a Rua Jaffa, coração turístico de Jerusalém.

A Pizzaria estava lotada. Por volta das 14 horas, um palestino de 22 anos, chamado Muhammad Izz al-Din al-Masri, entrou no local trazendo na mão um violão. Sentou-se, comeu uma fatia de pizza e detonou uma bomba recheada de pregos e porcas que estava acondicionada no interior do violão. A explosão feriu 130 pessoas e matou 15 judeus, 8 dos quais eram crianças.

O ataque foi planejado pelo Hamas e executado pelo suicida, mas a responsável pela logística fatal foi uma jovem palestina chamada Ahlam Ahmad al-Tamimi.

Al-Tamimi tinha 20 anos na altura, era bonita, dominava bem o inglês e ostentava um sorriso cativante, desta forma não levantou suspeitas nem antes, durante ou depois do ataque. Esta imagem comum, enganosamente inocente, lhe permitiu circular livremente pelas ruas de Jerusalém, prospectando um local onde fosse pudesse causar o maior dano possível e, até mesmo, que proporcionasse uma boa visibilidade para a evidente cobertura jornalística que o ato desencadearia.

A terrorista sabia a importância deste último detalhe, uma vez que era estudante de jornalismo na Universidade de Birzeit, uma pequena cidade da Judeia ocupada pelos árabes.

Dez anos depois do ataque, em agosto de 2011, al-Tamimi deu uma entrevista à TV Al-Aqsa, a TV oficial palestina, onde descreveu qual foi seu papel no atentado.

A terrorista disse que a pizzaria foi observada durante 9 dias, para que fossem estimados o melhor dia da semana e o melhor horário para a explosão. O objetivo era definir um ponto onde houvesse o maior número de pessoas possível.

Como toda estratega, al-Tamimi era covarde, não tinha a intenção de se explodir, mas sim de encontrar alguém tolo o suficiente para fazer o trabalho sujo. “Meu trabalho não era se explodir”, explicou, “mas sim conseguir alguém que quisesse se tornar um mártir. Minha missão era escolher o local e levar o mártir até lá.”

Na entrevista à Al-Aqsa, al-Tamimi disse ainda: “Eu fiz o plano geral da operação, mas a execução final foi confiada ao mártir. Eu o orientei a entrar no restaurante, fazer a refeição e 15 minutos depois deveria se explodir. Meu papel era entregar o violão [armadilhado] e persuadir o mártir a não desistir do plano, mostrando a ele a vida feliz que teria [no paraíso]. Durante estes 15 minutos eu voltaria [para o lado árabe de Israel] da mesma forma que cheguei. Despedi-me, ele atravessou a rua e entrou no restaurante. E eu fui-me embora.”

Durante 15 minutos, Muhammad al-Masri pôde observar que o local estava repleto de jovens e crianças, e mesmo assim continuou firme no seu propósito. Às 14:15 ele acionou a bomba.

No dia 12 de julho de 2012, Ahlam Tamimi, que atualmente reside na Jordânia, voltou a ser entrevistada pela TV Al-Aqsa e, rindo, descreveu como foi a reação da população palestina nas ruas de Jerusalém.

“Quando peguei o ônibus [para regressar para o território ocupado pelos árabes], os palestinos em torno do portão de Damasco estavam todos sorrindo. Você podia sentir que todo mundo estava feliz. Quando cheguei ao ônibus, ninguém sabia que eu era a responsável por levar o mártir. Eu me senti um pouco estranha, por ter deixado Izz al-Din para trás, mas dentro o ônibus, todos estavam se parabenizando uns aos outros. Eram pessoas que não se conheciam, mas estavam festejando juntos.”

“Enquanto eu estava sentada no ônibus”, continuou Tamimi, “o motorista ligou o rádio e à medida que as notícias iam avançando, nós comemorávamos. Quando informaram que havia ‘três pessoas mortas’, admito que fiquei um pouco desapontada, pois esperava um número maior, mesmo assim, quando disseram ‘três mortos’, eu gritei: ‘Allahu Akbar!’ Dois minutos depois, o radialista informou que o número de mortos havia subido para cinco, eu queria conter o riso, mas não conseguia. Allah seja louvado, foi maravilhoso. E quanto mais o número de mortos ia aumentando, mais os passageiros aplaudiam”, concluiu a terrorista.

Após uma ampla investigação levada a cabo pela polícia israelense, al-Tamimi foi identificada, caçada e presa. No julgamento, pegou uma pena que resultava em 16 condenações à prisão perpétua ou 1.584 anos de reclusão. O tribunal decidiu ainda que sua soltura não deveria nunca servir de moeda de troca no caso de negociação com grupos terroristas, fato que não aconteceu, pois al-Tamimi acabou solta numa troca de prisioneiros pelo soldado israelense Gilad Shalit. Na oportunidade, Israel trocou a vida de seu soldado pela libertação de 1.027 terroristas palestinos, al-Tamimi incluída.

Há dois anos, por ocasião do aniversário de 18 anos do atentado, al-Tamimi voltou a ser entrevistada pela TV israelense. Perguntada se havia algum arrependimento por parte dela e se voltaria a fazer o que fez, al-Tamimi foi categórica: “Eu não me arrependo do que aconteceu, absolutamente não! Este é o caminho. Eu me dediquei à Jihad por causa de Allah, e Allah me concedeu sucesso.” Depois, fitou o repórter e concluiu, ironicamente: “Você sabe muito bem quantas pessoas morreram naquele ataque. E isso foi possível graças a Allah. E você quer que eu me arrependa do que fiz?! Isso está fora de questão. Eu faria hoje tudo de novo… e da mesma forma.”

No período em que esteva na prisão, al-Tamimi concedeu sua primeira entrevista a um jornalista israelense. Naquela altura, a terrorista pensava que 3 crianças haviam morrido no atentado. Quando o jornalista disse que tinham sido 8, al-Tamimi se surpreendeu. Perguntou ao jornalista se teriam sido 8 mesmo e quando o jornalista confirmou, ela abriu um grande sorriso.

Não há consenso sobre a data de nascimento de Ahlam Ahmad al-Tamimi. A terrorista pode ter nascido no dia 1º de janeiro de 1980, 20 de janeiro de 1980, 20 de outubro de 1980 ou 20 de novembro de 1980. Talvez, nem ela mesmo saiba. Como as coisas do diabo nunca são claras, dificilmente saberemos quando ele a pariu.

Estas são as vítimas do ataque terrorista à Pizzaria Sbarro, algumas com a idade que tinham na época do atentado. De cima para baixo, e da esquerda para a direita: Hemda Schijveschuurder (2), Chana Nachenberg, Malki (15) e Michal Raziel (16), Judith Greenbaum (31), Frieda Mendelsohn, Tzirel, Avrahan Yitzchak (4), Tehilla Maoz (19), Ra’aya (14), Yocheved Shoshan (10), Tzvika Golombeck (26), Tamara Simshilashvili (8), Lily Simshilashvili, Mordechai (44) e Giora Balash.

OS ANOS SEGUINTES

O atentado à Pizzaria Sbarro resultou em 16 vitimas fatais e 130 feridos. Há hoje em Israel dezenas de famílias enlutadas, vítimas do terror, mas há também milhares de famílias que amargam tragédias quotidianas, resultantes das centenas de ataques terroristas que o país sofreu. Há alguns anos, uma produtora israelense realizou um filme sobre os sobreviventes e suas famílias. Infelizmente a cópia que dispomos deste filme não tem boa qualidade, mas mesmo assim nos possibilita entender o drama que se segue aos ataques e as consequências dos mesmos no longo prazo. Eis o filme.

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