LAG BAÔMER
Israel está em chamas. Não fiquem preocupados, não se trata de incêndios, mas sim de milhares de fogueiras que se espalham por todo o país. Se algum brasileiro desavisado pousar por aqui, poderá até imaginar que em Israel também se comemora as Festas Juninas. Nada disso, são simplesmente as comemorações do 33º Dia do Ômer. Mas, o que vem a ser isso?
Bem, entre as diversas disposições contidas no livro de Levítico, o capítulo 23 fala das Festas Solenes que deveriam ser observadas pelos filhos de Israel. As principais festas são o Pessach e Shavuot. Entre as duas, entretanto, acontece um período de Luto para o povo de Israel que é chamado de “Contagem do Ômer”. O nome deriva da antiga prática de oferecer um Ômer (395cm3) de cevada ao SENHOR no segundo dia do Pessach. Os judeus ortodoxos recitam bênçãos ao longo destes dias, observando-os e contando a passagem de cada um deles. E é esta a ação que recebe o nome de “Contagem do Ômer”.
O período é marcado por dias tristes, quando os judeus fazem luto pelas mortes ocorridas por uma praga que os atingiu durante a revolta armada contra os romanos, em 132 d.Y. (Depois de Yeshua). Diversas práticas são observadas como sinal de luto, entre elas as mais comuns são não cortar cabelos, não realizar casamentos nem fazer festas.
No entanto, quando chega o 33º dia da contagem, o luto é subitamente suspenso e lhes é permitido um dia de festa. Isso porque os judeus suspendem o luto para relembrar o Rabino Shimon bar Yochai. Paradoxalmente a data relembra a morte e não o nascimento do Rabino. Mas, porque um luto transforma em festa um período de luto? É que o próprio Rabino teria pedido isso. Isso porque ele queria que os judeus celebrassem com júbilo sua passagem para a vida eterna.
Desde então, atendendo ao pedido, a cada aniversário da sua morte as observâncias do luto são suspensas por um dia e milhares dos seguidores do Rabino se reúnem no Monte Meron, próximo à cidade de Safed, na Galiléia. E mais: Fogueiras são acesas por todo país para simbolizar, segundo seus seguidores, a luz resplandecente do SENHOR.
Como no período do luto os judeus não comemoram nada, esta breve pausa serve para que casamentos sejam realizados, aniversários comemorados e os cabelos cortados. Muitos pais deixam cortar os cabelos dos filhos homens até os três anos e no primeiro Lag Baômer depois de completar o terceiro aniversário, as crianças judias têm seus cabelos cortados em clima de festa.
Outras tradições deste dia festivo são o uso de arco e flecha nos parques e a presença de ovos cozidos nas mesas. Casamentos e arco e flecha eu não vi, mas fogueiras, crianças com os cabelos recém cortados e muitos ovos nos balcões dos restaurantes e lanchonetes, isso eu vi.
Marinheiro de primeira viagem que sou (este é meu primeiro Lag Baômer em Israel) eu não entendia por que nos dias que antecederam à festa começaram a aparecer muitos móveis jogados nas ruas. Cadeiras quebradas, sofás rotos, armários velhos e todo tipo de madeira que havia entulhado em casa passaram a ser jogados em terrenos baldios. Na véspera da festa começou um mutirão para recolher esse material e empilhá-los de modo a formarem-se enormes fogueiras.
Quando a noite chegou, as pessoas correram para os terrenos com cadeiras, mesas, churrasqueiras, espetos com marshmallows e muita festa.
O lado incômodo deste dia está estampado nos jornais do dia seguinte: Com o fogo fugindo do controle, os bombeiros têm trabalho dobrado no período. Eu flagrei, inclusive, viaturas da Polícia rebocando pequenos tambores de água para aquelas emergências onde apenas baldes são necessários para se evitar tragédias.
E pelas ruas deste país ímpar ouviu-se, uma vez mais – e em profusão – a expressão comum nos dias de festa: “Chag Sameach!” Ou seja, “Boas Festas!”.
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