OS JUDEUS DA EUROPA ESTÃO EMPREENDENDO UM NOVO ÊXODO
A Europa da cultura judaico-cristã, da liberdade de expressão, da democracia representativa, da liberdade para a mulher, vai pouco a pouco cedendo espaço para uma Europa neomedieval.
Revista que destaca a perseguição aos judeus em 2014 é fotografada diante de uma antiga residência judaica com símbolo cruciforme na fachada. Este sinal era um dos estratagemas utilizados pelos judeus para esconderem-se da perseguição que lhes foi imposta ao longo da Idade Média. 276 anos separam estes dois êxodos, sendo que um deles mergulhou a Europa da Idade das Trevas. O que acontecerá ao Velho Continente com o advento do outro?
EXODUS
A revista Newsweek desta semana (08/08/2014) traz como matéria de capa uma reportagem sobre a evasão empreendida pelos judeus da Europa nos últimos meses. Um contingente enorme de judeus vem deixando o Velho Continente rumo a diversos países, principalmente Israel. Cem anos depois do início da Primeira Guerra Mundial, estopim do antissemitismo que varreu a Europa ao longo do século passado, a região está novamente à caça dos judeus.
Eis aqui algumas informações inquietantes da emblemática edição desta que é uma das revistas mais influentes do mundo.
A França tem assistido a pior onda de violência dos últimos tempos, mas as manifestações antissemitas, impulsionadas pelos protestos contra a guerra em Gaza, está-se espalhando por todo o continente.
Na Grã-Bretanha, o Comité de Segurança Comunitária afirma que apenas no mês de Julho aconteceram 100 incidentes antissemitas no Reino Unido. Antes disso, em maio, um franco-atirador armado com um fuzil Kalashnikov matou quatro pessoas que visitavam o Museu Judaico de Bruxelas. Em Berlim, uma multidão de manifestantes anti-Israel teve que ser contida à força a fim de evitar-se a depredação de uma sinagoga. Em Liege, na Bélgica, o dono de um café colocou uma placa dizendo que os cães são bem-vindos no estabelecimento, mas os sionistas, de modo algum!
Placa na vitrine de um café belga diz que cães são bem-vindos, mas judeus não.
Stephen Pollard, editor do Jewish Chronicle, observa que apesar dos protestos estarem aparentemente voltados contra as ações na Faixa de Gaza, os judeus alvo dos vândalos não sofreram tentativa de agressão por causa do conflito, mas sim porque são judeus.
A onda antissemita pode-se também ser observada nas esferas políticas, uma vez que nas últimas eleições para o parlamento europeu houve um substancial aumento da participação dos partidos de extrema-direita. França, Grécia, Hungria e Alemanha são países que viram a bancada antissemita crescer depois das últimas eleições.
“Talvez o resultado mais chocante”, destaca a Newsweek, tenha sido “o aumento no apoio ao Aurora Dourada, da Grécia”. O Aurora Dourada é um partido abertamente neonazista e nas últimas eleições recebeu quase 10% dos votos, conquistando três assentos no Parlamento Europeu (PE).
Mais emblemático é o caso da Hungria, que juntamente com a França também viu avançar a representatividade extremista no PE. Em 2012, Marton Gyöngyösi, um político ultraconservador, sugeriu que o Governo elaborasse uma lista dos judeus húngaros. Diante do enorme desconforto causado pela proposta, as reações de Gyöngyösi configuraram-se num daqueles casos em que as emendas ficam piores do que o soneto. A princípio justificou sua proposta dizendo que os judeus a serem “relacionados” seriam “apenas” os que trabalhassem no Parlamento ou para o governo. Justificativa: Eles representariam um “risco para a segurança nacional”. Depois, como persistiu o desconforto, Gyöngyösi pediu desculpas e disse que estava se referindo “somente aos judeus com dupla cidadania, húngara-israelense”. Melhorou? Claro que não.
Foi do jornalista judeu-americano Jeffrey Goldberg que veio a indagação que faz tremer as comunidades judaicas europeias. Através da sua conta no Twitter, Goldberg indagou: “Quando será o momento que os judeus dos EUA e de Israel dirão para os judeus da Europa que está na hora de sair?” A reportagem da Newsweek concluiu: Provavelmente agora! E parece que é isso que vem acontecendo. Uma pesquisa publicada em novembro de 2013 pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia, revelou que 29% dos judeus europeus consideraram a possibilidade de emigrar por não se sentirem mais seguros onde estão. A pesquisa revelou que judeus de toda a Europa vêm relatando casos de “insultos pessoais, discriminação e violência física que, apesar dos esforços concentrados por parte da União Europeia e dos seus Estados-Membros, não mostram sinais de diminuírem”.
Em conversa com Roberto Kedoshim, o diretor do Notícias de Sião, uma judia de Leicester relatou o permanente clima de ódio vivido nas ruas do Reino Unido. Ela própria, por três vezes, teve de fugir de regiões onde percebeu que sua integridade física corria risco. Depois de ter imigrado de Israel para a Inglaterra por razões profissionais, esta judia já considera a possibilidade de abandonar aquela parte da Europa.
“A tendência é muito preocupante”, diz Natan Sharansky, presidente da Agência Judaica, responsável pelas relações de Israel com as comunidades da diáspora e organizador de programas de imigração. “O nível de preocupação com a segurança na Europa é maior do que na Ásia ou na América Latina. Este sentimento de insegurança está crescendo. É difícil imaginar que na França, Bélgica e muitos outros países o povo judeu esteja sendo orientado a não sair nas ruas usando kipá”.
No início de julho, uma judia ucraniana explicou ao Notícias de Sião que a situação estava acalmando-se em cidades importantes como Kiev e Donetsk, mas que nas cidades próximas à fronteira russa a presença judaica era agora praticamente inexistente. Ao jornalista Roberto Kedoshim esta judia informou que no lado ucraniano que se viu livre do regime pró-russo as coisas melhoraram e diversas famílias, que por anos esconderam suas origens, voltaram agora a utilizar os sobrenomes judaicos. Já na Região Autônoma da Crimeia, os judeus praticamente desapareceram.
Sempre que podem, os judeus emigram para Israel, numa tendência que só tem vindo a aumentar. E a França apresenta números sintomáticos desta tendência. Entre 2011 e 2012 pouco menos de 2.000 judeus franceses haviam emigrado para Israel, mas em 2013, depois de um sangrento ataque à comunidade judaica de Toulouse, 3289 judeus deixaram a França rumo a Israel. E só no primeiro trimestre de 2014 o número chegou aos 1.778 judeus emigrados. Segundo Roger Cukierman, presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (CRIF), “Entre 5 a 6 mil judeus deixarão a França em 2014”. Para o presidente da CRIF, se os judeus estivessem deixando a França e emigrando para Israel por questões ideológicas, por causa da sua visão sionista, tudo bem, o problema é que eles estão “fugindo por causa do medo”, lamentou Cukierman.
Radicais islâmicos protestam exigindo que o Governo do Reino Unido implante a Lei da Sharia na Grã Bretanha
Para trás eles vão deixando espaço para as comunidades islâmicas que pouco a pouco vão dominando importantes segmentos da economia, da cultura e do esporte. Das camisas dos clubes aos guichês das companhias aéreas de quase todo aeroporto, o que mais se vê na Europa de hoje é o avanço das marcas e das grifes árabes.
A Europa da cultura judaico-cristã, da liberdade de expressão, da democracia representativa, da liberdade para a mulher, vai pouco a pouco cedendo espaço para uma Europa neomedieval. O crescimento dos movimentos islâmicos radicais, a fragilização das convenções sociais, a supervalorização do conceito do “politicamente correto” e a elaboração de leis débeis que não contrariem a Sharia, está empurrando a Europa do Shalom para uma Europa cada vez mais Salam. O moderno êxodo dos judeus é apenas a pá de cal que faltava para que este processo finalmente se complete. Pobre Europa.
COM INFORMAÇÕES DA NEWSWEEK