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Israel Nação Start-Up, mas com sotaque árabe

A cidade mais antiga de Israel é Jericó, mas quando se pensa em viagens turísticas, as atenções se voltam para três outras cidades: Jerusalém, Belém e Nazaré. E o fato de serem cidades milenares passa logo a ideia de serem também locais com edificações antigas, sítios arqueológicos e museus. Esta visão não está errada, mas desenvolvimento e tecnologia em Israel não são privilégios de cidades mais modernas como Haifa, Petah Tikva ou Tel Aviv, e um exemplo disso é Nazaré.

Embora seja uma das muitas cidades árabes de Israel, Nazaré é hoje um importante centro tecnológico multicultural. Entre os seus 75.000 habitantes predominam cristãos e muçulmanos, mas lá o desenvolvimento não tem credo nem cor.

Nos últimos anos, esta história cidade da Baixa Galileia tem se tornado um importante centro de inovação tecnológica. E diferentemente de Tel Aviv, onde grande parte dos empreendimentos são mais judaicos, em Nazaré multiplicam-se os casos de empreendedorismo árabe-israelense.

Zohar Gendler, sócio-gerente e CEO da Nazareth, uma empresa sediada na cidade e que conta com investimentos do fundo de capital de risco NGT3 (Next Generation Technology), explicou numa entrevista ao jornal Jerusalem Post que o ambiente de sucesso encontrado em Nazaré estimula pessoas que deixaram seus empregos para investirem em negócios próprios.

“Até agora, o número de empresas bem-sucedidas no lado árabe de Israel tem sido muito pequeno. Essa é uma das principais razões pelas quais os pesquisadores e empresários árabes hesitam em correr o risco e estabelecer uma nova empresa”, concluiu Gendler.

Apesar de representar mais de um quinto da população nacional, os cidadãos árabes de Israel não constam das listas de sucessos da chamada Nação Start-Up. Os israelenses árabes constituem apenas 3% da força de trabalho de alta tecnologia israelense, força esta que é dominada principalmente por judeus seculares.

Localizado na área industrial de Nazaré, nas proximidades da Basílica da Anunciação, o NGT3 investe em empresas novas, com foco em dispositivos médicos e ciências da vida. E na contramão do que é comum se observar nas empresas de alta tecnologia israelenses, na Nazareth, a Start-Up criada por Zohar Gendler, mais de 30% dos funcionários são árabes.

“Quando começamos, fomos pioneiros no estabelecimento de empresas de alta tecnologia lideradas por árabes”, disse Nizar Mishael, sócio-gerente da NGT3 e de outra companhia chamada CFO. “Hoje, você pode encontrar mais iniciativas e empresas novas começando. Nazaré se tornou um grande centro de alta tecnologia no setor árabe.”

O trabalho da NGT3 é apoiado por investidores de diversos países, tais como os Estados Unidos, a Espanha e a Índia, mas o suporte principal vem mesmo do Estado de Israel, que através da Autoridade de Inovação de Israel (AII) aporta 85% dos recursos.

“Precisamos do apoio governamental” explica Nizar Mishael, “pois não existem parques industriais de alta tecnologia em nenhuma cidade árabe”, concluiu o CEO.

A iniciativa de fazer de Nazaré um polo tecnológico reflete o empenho das autoridades em diminuir a distância entre árabes e judeus e ao mesmo tempo é uma prova inconteste de que não existe um apartheid social em Israel. A quase totalidade dos profissionais e executivos das empresas estabelecidas em Nazaré não fizeram sua formação profissional no exterior, mas sim em Israel.

Israel é mundialmente reconhecido pelo dinamismo dos seus empreendedores. E o que está acontecendo atualmente em Nazaré é uma prova de que este dinamismo não é exclusividade dos judeus. Zohar Gendler explica: “Quando você olha para um empreendedor árabe, você sabe que é uma mulher ou um homem que terminou os seus estudos na Universidade Hebraica de Jerusalém ou na Technion, de Haifa. Para essas mulheres e homens, é muito mais fácil pensar em empreendedorismo.”

O exemplo de Nazaré pode se multiplicar por outras regiões árabes de Israel. Para isso, basta que os movimentos que fomentam divisões deixem de lado suas posturas ideológicas enviesadas. É o que pensa a Dra. Nuha Higazi, executiva da P&D da PlasFree, uma empresa de dispositivos médicos: “Quando se vai a um escritório e se vê judeus e árabes trabalhando juntos, ninguém se sente diferente”, disse a Higazi, que é co-fundadora de outra empresa, a PamBio, uma Start-Up voltada para soluções em casos hemorrágicos, iniciada com o marido Abd Higazi, em 2014.

“Esta é a mesma interação positiva que eu encontrava durante os meus estudos de doutorado na Universidade Hebraica de Jerusalém”, sintetiza a executiva, “e não há razão para que não seja assim em todas as áreas da vida, não apenas nos estudos e no trabalho.”

ANDS | JPOST

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