
AS SIRENES EM ISRAEL
Vivi nestes últimos dias uma das experiências pelas quais mais ansiei participar aqui em Israel: O Toque das Sirenes. Há muito que leio sobre isso, acompanho nos jornais ou assisto pelo Youtube. Mas, nada se compara à sensação de “participar” do evento.
Em Israel as sirenes tocam, de forma memorial, em três dias distintos. O Mais conhecido deles é o Yom HaShoah (יום השואה), que é um Dia de Lembrança do Holocausto. Todos os anos, no dia 27 de Nissan do Calendário Judaico, judeus do mundo todo guardam dois minutos de silêncio em memória dos seis milhões de judeus vítimas do Holocausto nazista.

O Yom HaShoah foi estabelecido no ano de 1959 como lei em Israel e aprovado por David Ben-Gurion e Yitzhak Ben-Zvi. A data inicialmente proposta foi o dia 15 de Nissan, aniversário da revolta do gueto de Varsóvia, mas esta proposta não foi aceita, pois a data coincide com o primeiro dia de Pessach. Um consenso determinou o dia 27 de Nissan, por ser oito dias antes da comemoração de Yom Haatzmaut, o Dia da Independência de Israel.
Trata-se de um feriado nacional em Israel. Às 10hs da manhã, as sirenes aéreas soam por dois minutos. Os veículos de transporte públicos param por este período e as pessoas permanecem paradas e em silêncio. Durante o Yom Hashoah, estabelecimentos públicos são fechados, exceto os que promovem atividades especiais relacionadas ao Holocausto. A televisão e as rádios transmitem canções e documentários sobre o Holocausto e todas as bandeiras são hasteadas à meio-mastro.
Nos dias que antecedem o Yom Haatzmaut as sirenes tocam. Por duas vezes tocam dois minutos e uma vez por 60 segundos. Os dois outros toques são em homenagem aos soldados mortos nas guerras em defesa de Israel e aos mortos em dezenas de ataques terroristas.
Ouvi os três toques das sirenes em situações e circunstâncias diferentes. E todas muito especiais. Para a primeira – e para mim mais significativa – das homenagens escolhemos a dedo o local. Como estamos morando em Hod Hasharon, uma cidade pequena, a cerimônia aqui é menos visível. Então, no dia 12 de abril, eu e minha família fomos para a vizinha Kfar Saba. No centro da cidade fica a rua mais da “Vila do Avô” (“Kfar Saba”). O nome da rua? Herzl! Exatamente em homenagem ao fundador do moderno Movimento Sionista, Theodor Herzl. Esta rua, centenária, cruza a hoje principal avenida da cidade, a Weizmann, que recebe este nome em homenagem ao primeiro Presidente do Estado de Israel, Chaim Weizmann.
Chegamos à esquina por volta das 9:40h da manhã. Ajeitei a câmera para pegar o melhor ângulo de filmagem e simulei duas ou três tomadas para verificar o resultado. Por volta das 9:50 chegou um senhor numa moto. Exatamente às 9:58 ele retirou uma kipá preta do bolso, ajeito-a na cabeça e perfilou-se. Às 10:00 em ponto as sirenes tocaram, as pessoas pararam e o trânsito também. Os motoristas não apenas pararam como saíram de seus carros e ficaram ao lado, em pé, em silêncio.
Ali, na Avenida Weizmann, que homenageia o Primeiro Presidente do Estado de Israel, de frente para a Rua Herzl, o homem que sonhou este Estado, meus olhos se encheram de lágrimas. Foi meu tributo aos seis milhões de judeus mortos pela loucura de um homem que não conseguiu acabar com este sonho.
Os dois outros toques, de 1 e 2 minutos em homenagem aos mortos nos conflitos e atentados, também foram especiais. Voltávamos de Jerusalém para Hod HaSharon de trem no dia 18 de Abril quando, exatamente às 18:00h as sirenes tocaram. O trem parou, todas as pessoas ficaram em pé e o silêncio reinou absoluto. Espetacular!
Por ocasião do terceiro toque eu estava em casa. Há uma escola infanto-juvenil a menos de 50 metros do nosso apartamento. Do alto do terceiro andar nós ouvimos toda a algazarra da meninada. Neste dia, pela manhã, ouvimos gostosamente o Hatikva ser entoado pelas crianças. Ao meio-dia, no ápice das brincadeiras, fez um silêncio incrível e as sirenes soaram. Um minuto depois, a algazarra continuou. Eu e minha família, emocionados, guardamos os 60 segundos perfilados na sala do apartamento observando os campos de morangos da judéia onde apenas os pássaros ousavam quebrar o silêncio.
