UMA QUESTÃO DE INTOLERÂNCIA
Da mesma forma que certas pessoas têm intolerância à lactose, eu tenho intolerância à antissemitas.
Tenho intolerância à antissemitas. Tenho intolerância também à antissionistas. Da mesma forma que certas pessoas têm intolerância à lactose, eu tenho intolerância a este tipo de gente. Não importa o quanto sejam antissemitas, se totalmente radicais ou só um pouquinho, tenho intolerância. Conheço uma senhora que têm intolerância a nozes. Se tocar num pequeno pedaço, já fica com os lábios estourados. Sou exatamente assim, ao menor sinal de antissemitismo já me arrebento todo.
Pensava nisso ao terminar o último livro que li em 2013. Este foi um ano de mudanças, portanto tive que administrar meu tempo, mesmo assim consegui ler cinco bons livros ao longo do ano. E indiscutivelmente o melhor deles foi No rastro de Anne Frank, de Ernst Schnabel. Escrito ainda na década de 50 do século passado, foi o primeiro livro a analisar o recém-descoberto Diário de Anne Frank.
Schnabel, falecido em 1986, era um escritor e radio-documentarista alemão que acabou por se converter no primeiro biógrafo da jovem alemã que viveu 25 meses enclausurada em Amsterdam, vindo a falecer no campo de extermínio de Bergen-Belsen, em Março de 1945.
Analisando a trajetória de Annelies Marie Frank, Schnabel percebeu que ao longo da vida ela travara contacto direto com pelo menos 76 pessoas. Destas, o escritor encontrou-se pessoalmente com 42 e tomou nota das histórias e impressões que as mesmas ainda tinham na memória. O resultado das entrevista é o seu livro. Emocionante.
No quarto capítulo, Schnabel transcorre sobre a implementação da lei que obrigou os judeus a usarem uma estrela amarela costurada na roupa. Schnabel ouviu e registrou o depoimento de um médico, conhecido da família Frank.
“O primeiro dia em que fomos obrigados a usar a estrela foi um sábado. À tarde fui a um café onde nós, os judeus, podíamos entrar. Trazia a estrela costurada no sobretudo, mas não no paletó. O mesmo acontecia com a maior parte das pessoas no café. Às três e meia entraram doze guardas da Gestapo. Todas as pessoas gritaram. Arranquei meu sobretudo do cabideiro, mas não consegui vesti-lo. Coloquei-o sobre os ombros. Nesse momento os guardas estavam diante de mim: ‘Venha!’ Conduziram-me, correndo, à sede da Gestapo na cidade. Enquanto corria, atirei fora o meu relógio de ouro e também um caderninho onde anotara os endereços dos meus amigos. Felizmente, nenhum deles percebeu. No edifício da Gestapo obrigaram-nos a colocarmo-nos de rosto voltado para a parede e atrás, às nossas costas, puseram-se a andar de um lado para o outro a falar e, de vez em quando, a gritar. Os seus gritos não nos causavam medo. O que causavam era nojo. Depois de algumas horas mandaram-nos embora, e ainda na mesma noite abrigaram-nos a voltar para lhes mostrar que usávamos a estrela também no paletó. Isso aconteceu em Abril. Pouco depois, escondi-me”.
Ao contrário de Anne Frank, este conhecido da família sobreviveu, e seu depoimento cai como uma luva para ilustrar o que eu sinto em relação a antissemitas: Não os temo, tenho nojo.
Indignos de piedade!
Ganhei da minha irmã no meu aniversário de 17 anos o livro “O diário de Anne Frank” e até hoje, aos 33 anos, não consegui terminá-lo.Quase sempre paro no mesmo capítulo sem conseguir ir adiante.Mexe muito comigo, aos 17 anos quase entrei em depressão porque ela foi se tornando familiar a mim e eu sabia antes de chegar ao fim do livro, qual havia sido o seu destino e de parte de sua família.Em vários momentos e vivia o medo que eles passavam de serem descobertos…era terrível sofrido.Desisti.
Talvez eu consiga ler esse.
Fabiana
Roberto, tive a oportunidade de conhecer a “casa” de Anne Frank em Amsterdam, e confesso que com minha humilde falta de conhecimento na época me faltou sensibilidade para entender o porque da reação e emoção daquelas pessoas que ao adentrarem a cada cômodo do imóvel, viam ali contadas talvez estórias de suas próprias famílias, honestamente passei horas no local apenas observando somente as pessoas, tentando entender, o porque idosos, jovens e crianças, demonstravam as vezes tristeza no olhar, as vezes um modesto sorriso ao olhar sua família toda reunida naquele local… desde a imensa fila até a saída, onde se ouvia ao fundo sinos tocando como se fosse um filme…, parabéns pelo conteúdo, que me fez entender um pouco melhor esse momento vivido pela humanidade que nunca deveria ter acontecido.