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Islamismo

A morte de um palestino seria um crime ou um favor?

É difícil para os ocidentais entender o que se passa na Faixa de Gaza. Se os acontecimentos envolvendo o Hamas e seus seguidores forem observados do pondo de vista ocidental, nada fará sentido. O que para um ocidental é tragédia, para eles é a glória. O que para um ocidental é lamento, para eles é glamour. Só é possível compreender os sentimentos dos palestinos diante da morte quando se conhece os seus propósitos.

UMA SOCIEDADE QUE VALORIZA E ANSEIA PELA MORTE

No cristianismo, a fé está baseada num Deus que que dá a vida do Seu Filho para a salvação dos seus seguidores, no islamismo é o oposto, ao invés de dar um filho para morrer pelos seus seguidores, Allah pede que seus seguidores deem seus filhos por ele.

No cristianismo a máxima é esta: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16). Ou seja, a morte do Filho do Deus cristão dá acesso à vida eterna aos seguidores deste Deus.

A lógica islâmica não é a mesma. Vejam o que diz o Alcorão: “E não creiais que aqueles que sucumbiram pela causa de Allah [que morreram por Allah] estejam mortos; ao contrário, vivem, agraciados, ao lado do seu senhor. Estão jubilosos por tudo quanto Allah lhes concedeu da sua graça, e se regozijam por aqueles que ainda não sucumbiram, porque estes não serão presas do temor, nem se atribularão. Regozijam-se com a mercê e com a graça de Allah, e Allah jamais frustra a recompensa dos fiéis.” (Alcorão 3:169:171).

No islamismo, todo fiel que “morre por Allah” atinge o status de mártir. E o conceito de martírio é algo muito importante e extremamente valorizado no islã.

Entretanto, há um fato interessante nessa história: As altas lideranças islâmicas, os clérigos, os políticos, os comandantes militares e os líderes dos grupos terroristas parecem não ter nenhum interesse em alcançar o status de mártir. Nem eles nem seus filhos. Grande parte destas lideranças acabam seus dias em boa velhice, sem concretizarem o sonho que vivem a despertar nos seus seguidores.

Na verdade, esses líderes sabem que não é nada agradável se tornar um mártir. O sheik Muhammad Akram Nadwi, uma das maiores autoridades na doutrina islâmica em todo o mundo, explica da seguinte forma a palavra e as condições para um simples fiel ser alçado à condição de mártir.

“O termo mártir – ‘shahid’ em árabe – deriva de uma palavra cuja tradução literal é ‘testemunho’”, diz o sheik. “E a jurisprudência islâmica (‘fiqh’), determina as regras e as condições para que a morte [de um simples fiel muçulmano] seja capaz de elevá-lo ao status de um mártir. E as condições são essas:

1. A morte deve ser causada intencionalmente (não pode ser um acidente):

2. A morte deve ser causada por assassinado injusto:

3. Os meios ou a arma utilizados para causar a morte deve ser normalmente entendido como mortal (ser golpeado por um pedaço de pau, por exemplo, não entra nesta definição);

4. O ato que leva à morte não deve ser seguido por um período de sobrevivência (por exemplo, se alguém foi baleado e sobreviver por alguns dias, sua morte não será classificada como ‘shahid’).”

Muhammad Akram Nadwi descreve estas condições na sua obra “Al-Fiqh al Islami”, condições estas que sintetizam o pensamento de outra autoridade islâmica, o imã Al Kasani, cujas regras se encontram no tratado Bada´i al-Sana´i, uma referencia da escola hanafi.

Mohammad Akram Nadwi é decano do Colégio Islâmico de Cambridge e diretor do Instituto Al-Salam, de Oxford, ambos no Reino Unido. A reputação de Akram Nadwi vem do fato dele não só ser um dos mais afamados sheiks, como também pela sua vasta obra. Akram Nadwi escreveu mais de 60 livros doutrinários e um dicionário composto por 43 volumes.

Tendo em vista o que significa ser mártir para um muçulmano, não surpreende o fato deles não temerem a morte ou cheguem até mesmo a desejá-la. Até porque, a figura do mártir é valorizada dentro da sociedade palestina. A família do mártir é reconhecida pelos seus pares e fotos e posters desses mártires são espalhadas por todas as cidades sob domínio da Autoridade Palestina.

Uma publicação da Rádio Voz de Al-Aqsa no Twitter comunica nestes termos a morte de mais um muçulmano: “O Ministério da Saúde em Ramallah, informa que Muntaser Mahmoud Zaidan, de 29 anos, foi martirizado por graves ferimentos na cabeça pelas forças de ocupação há dois dias, em Jenin, elevando o número de mártires na Cisjordânia e em Jerusalém para 29 mártires, incluindo 4 filhos e uma mulher.”

A ênfase na expressão “mártir” é uma constante em todas as publicações da referida emissora. Eles fazem questão de destacar as condições da morte para que a família do morto se regozije pela perda do seu ente querido ao invés de se lamentar.

No caso da morte do locutor da rádio Voz de Al-Aqsa, tema tratado numa das nossas reportagens, a emissora, que pertence ao Hamas, disse no Twitter: “O mártir Yusef Abu Hussein, também conhecido como Abu Salah, foi elevado a maior mártir na manhã desta quarta-feira 19/5, depois de ser alvo de mísseis de ódio sionistas em seu apartamento.”

Novamente, vemos aqui uma ênfase na palavra “mártir”.

Em relação às cenas em que pais, mães e amigos entram em desespero, há diversas hipóteses que nós podemos levar em consideração.

A primeira, é o fato de que essas pessoas, por mais que a vida lhes tenha tirado a sensibilidade e a religião lhes tenha alienado, no fundo são serem humanos, no fundo têm emoções, emoções estas que, naturalmente, afloram no momento de dor.

A segunda hipótese, é a tese da teatralidade. Não podemos negar que a cena de cadáveres desfilando pelas ruas, seguidos de parentes a chorar, é um espetáculo impactante para os ocidentais. Fotógrafos e cinegrafistas estrangeiros buscam os melhores ângulos, pois uma boa cobertura lhes pode render valiosos prêmios internacionais. É inescrupuloso, mas é real.

Mas há, ainda, uma terceira hipótese: A incerteza. Embora o Alcorão prometa um paraíso risonho para os mártires, o sheik Mohammad Akram Nadwi, no alto do seu imenso conhecimento do Islã, diz que a recompensa para um mártir não é de todo garantida, pois independentemente do sacrifício que tenha feito o shahid, “o julgamento no pós-vida é uma prerrogativa de Allah”. Ou seja, Allah pode, simplesmente, não validar os esforços do seu shahid.

Para terminar, fica no ar uma pergunta incômoda: Se o ponto alto na vida de um muçulmano é morrer pela causa islâmica, atingindo o status de mártir, de modo que isso lhe permita aceder ao paraíso e a 72 virgens, então quando um soldado israelense lhe tira a vida, este soldado está fazendo um mal ou um bem ao muçulmano?

ANDS | TWITTER

2 Comments

  1. A IDF faz de tudo para não tirar a vida de um muçulmano, primeiro pelo valor que dão a vida de todo ser vivo. Ouvi e viv isso em Israel, como lhe é importante a vida do proxímo. Segundo para justamente não fomentar a pratica do muçulmano promover sua morte atravez de ataque Kamikaze a soldados,

    1. Luciano, 100% das pessoas que são 100% contra Israel, nunca puseram os pés em Israel. Mesmo os mais radicais dos antissemitas, de visitarem Israel, voltam com alguma diferença nos seus posicionamentos. Podem voltar com críticas, afinal Israel é uma democracia e como toda democracia, tem acertos e erros, mas É IMPOSSÍVEL visitar Israel e não se dar conta que a maioria das coisas que se dizem contra essa nação e o seu povo não passam de mentiras. Você morou lá, você trabalhou lá, você conviveu com judeus e árabes, você sabe o que aquela nação e aquele povo são. Agora, aparecem pessoas que a viagem mais longa que fez foi ir até a capital para participar de um congresso de estudantes ou de uma manifestação política e acha que “sabe tudo” o que se passa do outro lado do mundo. É uma parvalhice. Shabbat Shalom, Luciano.

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