O primeiro livro de Reis registra, no capítulo 21, uma história intrigante. Nabote, um agricultor de Jezreel, era dono de uma vinha. Jezreel era uma cidade estratégica, situada cerca de quarenta quilômetros ao norte de Samaria, a capital do reino de Israel.
Além de ter uma boa propriedade, Nabote produzia seus vinhos num local privilegiado, pois sua vinha se encontrava exatamente ao lado da residência de verão do Rei Acabe, o rei de Israel. E esta proximidade despertou no rei um interesse em adquirir a propriedade.
Não querendo impor seu poder real, Acabe apresentou uma proposta a Acabe. Ele não só compraria a vinha por um preço justo, mas também lhe cederia uma outra vinha, noutro local. Nabote explicou ao rei que não podia desfazer-se da vinha, pois se tratava de uma herança de família.
Embora desgostoso, Acabe não tomou a vinha à força, mas manteve-se desgostoso, fato que chamou a atenção da sua esposa, Jezabel, que logo urdiu um plano para apossar-se da vinha.
Ciente de que o marido respeitaria a Lei, Jezabel providenciou que dois homens testemunhassem falsamente contra Nabote. A Lei Mosaica determinava que uma acusação, sustentada por pelo menos duas testemunhas, levaria Nabote a perder sua propriedade.
Os dois homens acusaram Nabote de blasfemar contra Deus e contra o rei e, de acordo com Êxodo 22:28 e Levítico 24:10-16, a pena era a morte por apedrejamento. E foi o que aconteceu.
É muito difícil saber por quanto tempo Acabe e seus descendentes usufruíram da vinha, pois findo o seu reinado, de 873 a 852 a.C., não mais se falou dela que, com o tempo, acabou sepultada sob escombros.
O trágico fim de Nabote e sua vinha passaram a fazer parte apenas das páginas da Bíblia. Para os céticos, era mais uma emblemática alegoria de como a astúcia, a riqueza, a arrogância e o poder dos ricos podem usurpar os bens dos mais pobres.
Mas, lembre-se, a vinha de Nabote e o palácio do seu vizinho cobiçoso ficavam em Israel, e o povo de Israel deixou sua história registrada neste livro fantástico que é a Bíblia. E em Israel os arqueólogos trabalham com uma pá numa mão e a Bíblia na outra. Mesmo os mais incrédulos.
“Não há dúvida de que a Bíblia é uma fonte útil”, disse certa vez a arqueóloga Norma Franklin. “Todos os arqueólogos usam a Bíblia, mas alguns a usam com mais cautela.”
Norma Franklin é uma arqueóloga cética. Mas, mesmo cética, e sempre acompanhada de uma Bíblia, foi justamente sob o seu comando que um grupo de arqueólogos acabou por descobrir as ruínas da Vinha de Nabote.
Usando a tecnologia laser, Franklin encontrou provas da existência daquela vinha, exatamente no local determinado pelo texto bíblico.
A vinha em si, ou seja, a plantação, evidentemente não foi encontrada, uma vez que vinhedos não deixam rastros arqueológicos, mas Norma Franklin e sua equipe conseguiram mapear todos os detalhes da casa onde Nabote produzia os vinhos que despertou a inveja de Acabe.
As escavações arqueológicas acabaram por revelar o local onde as uvas eram pisadas, as cubas de fermentação, a bacia de armazenamento, os almofarizes para o preparo das ervas usadas nos vinhos fortificados e até uma adega de 12 metros quadrados.
“Não podemos saber se a história bíblica de Nabote é verdadeira”, disse Norma Franklin, “mas quem escreveu sobre ela sabia que aqui, em Jezreel, havia uma vinha e uma adega, e que elas ficavam ao lado de uma grande área junto à casa do rei”, concluiu a arqueóloga.
A posição geográfica confirma a confiabilidade histórica da história e quase 3.000 anos depois do trágico desaparecimento do vinicultor jezreelita, os arqueólogos revelam a impressionante Vinha de Nabote.
As marcas que ficaram eternizadas em Jezreel não foi a arrogância de Acabe nem a astúcia de Jezabel, mas sim a vinha de Nabote e dos seus pais.
Hoje, com um mapa turístico numa mão e as Sagradas Escrituras na outra, quem visita Israel pode caminhar nos mesmo locais onde a História Bíblica certamente aconteceu. E não há nenhum roteiro turístico em qualquer outra parte do mundo que permita uma experiência como essa.
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