Quando vocês estiverem se deslocando por Israel, dentro dos ônibus, esqueçam os celulares, esqueçam as conversas desnecessárias e… olhem pela janela. Nas viagens que fiz, entristeceu-me ver como muitas pessoas perdem cenas maravilhosas por priorizarem detalhes que poderiam ser observados depois, nos hotéis, na hora de se recolherem. É por isso que quero lhes deixar aqui uma dica: Enquanto estiverem andando por Israel, observem tudo, pois na Terra Santa a História, bíblica ou não, está por todos os lados.
E para ilustrar isso, quero destacar uma das imagens que pode passar despercebida por quem está “subindo” para Jerusalém: Os famosos “Esqueletos dos Comboios”. A minha sugestão é que, ao subirem para Jerusalém, peçam ao guia para lhes avisar quando estiverem passando por um destes “esqueletos”.
Na estrada que dá acesso a Jerusalém é possível ver as sucatas abandonadas de diversos veículos militares. Estas sucatas são o que restou dos comboios que desempenharam um importante papel na batalha pelo controle do “Corredor para Jerusalém” durante a Guerra da Independência. A maioria dos comboios consistia em caminhões de abastecimento, embora contassem também com veículos militares blindados. Estes veículos não participavam de toda a viagem, eles acompanham os comboios apenas nos pontos mais vulneráveis da viagem.
O método de transportar mercadorias através de comboios foi uma estratégia que começou de forma gradual. No início, apenas um carro fazia a viagem e depois, gradualmente, dois e três foram incorporados à frota. No início, a proteção do comboio era feita por militares instalados dentro de ônibus, depois os judeus passaram a colocar atiradores em cima dos caminhões e só posteriormente é que os comboios passaram a ser acompanhados por veículos blindados.
A necessidade de manter Jerusalém suprida era grande, mas a escassez de veículos para a guerra era maior, por isso, à medida em que iam conquistando terreno, os judeus passaram a posicionar franco-atiradores ao longo da estrada, em cima dos montes, de onde poderiam neutralizar o inimigo e proteger os comboios de suprimento.
No início, os comboios contavam apenas com 10 caminhões, mas a medida em que a guerra avançava, o número de veículos foi aumentando ao ponto de alcançar, em abril de 1948, cerca de 200 caminhões por comboio. Era uma operação fantástica!
Os comboios eram extremamente vulneráveis. Barreiras de pedras eram colocadas em vários trechos da estrada, forçando os motoristas a pararem. Quando estes desciam para desobstruir a via, franco-atiradores abriam fogo contra os motoristas e os veículos. Grande parte dos caminhões pertenciam à empresas cooperativas dos kibutzim e os motoristas, na sua maioria, eram voluntários para a empreitada.
Um dos grandes desafios nesta viagem era a vulnerabilidade dos comboios, uma vez que os veículos dificilmente atingiam os 30 km por hora. Nesta região a subida é bastante íngreme e os caminhões eram extremamente pesados, pois além das mercadorias em si, ele ainda eram equipados com placas blindadas afixadas nas portas e janelas da cabine, para proteger os motoristas do fogo dos franco-atiradores. As cabines dos motoristas não tinham ventilação e os motoristas sofriam de um calor insuportável – a ponto de muitos deles descreverem a experiência como “ser cozido” durante a viagem.
Como guerra é guerra, muitos destes veículos sucumbiram diante dos ataques inimigos. E para marcar a bravura dos homens que empreenderam estas viagens, e pelos muitos que tombaram na luta por suprir Jerusalém, o Exército de Israel resolveu, em forma de homenagem, deixar o resto de alguns daqueles veículos, no exato local em que eles foram atacados. Estes esqueletos de blindados encontram-se hoje em quatro pontos da rodovia que liga Tel Aviv a Jerusalém, especificamente entre as “junções” de Shaar Ha-gai e Shoeva. “Junção” é a forma como os judeus chamam os entroncamentos de suas estradas. No Brasil se diz Cruzamento ou Trevo. Entre estas junções, de 4 em 4 km, existe uma porção destes esqueletos. E há espaços para o estacionamento de veículos, tanto de um lado como do outro da estrada, o que possibilita que os ônibus parem para que os turistas possam ter uma ideia do que foi o esforço de trazer alimentos, água e armas de Tel Aviv para a cidade sitiada de Jerusalém no início de 1948.
FATOS INTERESSANTES DOS COMBOIOS PARA JERUSALÉM
Veja agora um resumo desta epopeia, para que você valorize as imagens que verá ao passar pelos Esqueletos dos Comboios.
- Durante a Batalha pela Estrada para Jerusalém, 230 comboios partiram para levar suprimentos para a cidade sitiada.
- Apenas 8 comboios não atingiram seu objetivo e retornaram para o ponto de partida.
- Ao longo da guerra, mais de 3.100 caminhões subiram para Jerusalém e eles transportaram nesta viagens cerca de 10.500 toneladas de suprimentos.
- Os principais comboios começavam a viagem no Kibutz Hulda, no amanhecer do dia. A princípio foram usados ônibus e carros particulares, só depois, com o aumento da necessidade, é que se passou a usar caminhões.
- Os comboios eram tão extensos que, muitas vezes, quando os últimos veículos da fila estavam partindo de Hulda, os primeiros já estavam chegando a Jerusalém. E olha que a distância de Hula para Jerusalém é de 45 km!
- Apenas no mês de fevereiro de 1948, 1299 caminhões subiram para a Jerusalém sitiada em 81 comboios.
- Ao longo do cerco da Cidade Santa, aproximadamente 40 caminhões foram atingidos pelo fogo inimigo e não puderam continuar a jornada. Alguns foram rebocados para esconderijos e outros foram deixados ao longo da estrada.
E são justamente estes, os que foram deixados, que nos fazem lembrar hoje a coragem daqueles que guardavam os comboios e que sacrificaram as suas vidas para levar suprimentos para a cidade sitiada de Jerusalém.
Nas Batalhas na Estrada para Jerusalém, mais de 400 valorosos israelenses deram sua vida pela libertação da Terra de Israel, muitos deles na batalha de Latrun.
Ao passarem por estes locais, esqueçam os celulares, esqueçam as conversas paralelas e prestem uma homenagem a estes valorosos heróis de Israel.
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