YOM HASHOAH E OS 77 ANOS DO GUETO DE ŁODŹ
Para os reducionistas o que passou, passou, ficar relembrando não faz sentido. Faz. O mal não relembrado nos coloca no risco de vê-lo repetido.
O TESTEMUNHO DE UM SOBREVIVENTE DO GUETO DE ŁODŹ
“No dia 1º de Maio de 1940 recebemos a trágica notícia: o gueto foi fechado, ninguém poderia entrar ou sair dali, sem ordem expressa alemã. Łódź foi o primeiro gueto europeu a ser fechado com arame farpado. Um bondinho ligava Łódź às cidades vizinhas. Passava no meio do gueto. A rua por onde ele passava estava cercada com arame farpado de ambos os lados e sobre ela passavam pontilhões que ligavam as duas partes do gueto. Muitas vezes vi os alemães praticando tiro-ao-alvo em direção aqueles pontilhões, mirando nos pedestres que por ali passavam. A cidade foi então incorporada ao Reich, recebendo o nome de Litzmannstadt, em homenagem ao general alemão que a conquistara na Primeira Grande Guerra. Encolhidos em nossos cubículos, invejávamos os judeus de outras cidades, principalmente aqueles que ainda continuavam livres. O gueto de Varsóvia ainda não tinha sido organizado.” (Henry Nekrycz Ben Abraham em “…e o mundo silenciou”)
UM CAFÉ DA MANHÃ SUI GENERIS
A mesa para o café da manhã estava posta. Esperei que Ben Abraham se sentasse e ele esperou por Miriam. Acomodados, Miriam retirou da bolsa uma pequena caixa e começou a organizar comprimidos coloridos sobre a mesa. Noutra circunstância talvez até achasse engraçada a cena, pois a profusão de cores e a quantidade de comprimidos pareciam saídas de um tubo de M&Ms. Não era. Era o reflexo das atrocidades que aqueles dois seres viveram ao longo de anos, durante a Segunda Guerra Mundial. Era o reflexo do que o antissemitismo fizera com aqueles dois frágeis corpos que tomavam café comigo naquela manhã.
Editor do Notícias de Sião entrevistando Ben Abraham
O episódio acima aconteceu numa das ultimas vezes que estive com Ben Abraham. Naquele mesmo dia, um pouco mais tarde, fui um dos jornalistas que o entrevistou para um programa de televisão. Na mesa redonda estava também outro jornalista, Plínio Bortolotti, que embora refute o título de negacionista – o que provavelmente não é – pelas perguntas dirigidas ao entrevistado mostrou-se ser um reducionista. Reducionistas são aquelas pessoas que acham que não se deve “explorar” as imagens da Shoah. Para os reducionistas o que passou, passou, ficar relembrando não faz sentido. Faz. O mal não relembrado nos coloca no risco de vê-lo repetido.
E é o que fazemos no dia de hoje, 24 de Abril de 2017: relembramos a Shoah. Em diversas partes do mundo a ação PAREMOS 1 MINUTO levará milhões de judeus a pararem tudo por um minto em homenagem aos 6 milhões de judeus mortos na Shoah, tentativa de extermínio popularmente conhecido por Holocausto.
E NOTÍCIAS DE SIÃO junta-se a todos os judeus e amigos de Israel não só através da hashtag #Paremos1Minuto como, numa homenagem a Ben Abraham, publicamos aqui 77 raríssimas fotos do Gueto de Łódź. O número 77 é uma alusão aos 77 anos do início do gueto, fato que se deu, conforme relato do próprio Ben Abraham, no dia 1º de Maio de 1940.
UM FOTÓGRAFO VISIONÁRIO E CORAJOSO
Henryk Ross fazendo selfie
Em 1940 além do futuro escritor e jornalista Ben Abraham havia na cidade de Łódź um fotógrafo chamado Henryk Ross. Judeu, Ross registrava com sua câmara atualidades a eventos esportivos. Em 1939, quando as forças alemãs invadiram e assumiram o controle de Łódź, no início da II Guerra Mundial, a única forma que Ross arranjou de sobreviver foi passar a trabalhar para o regime nazista, fazendo fotos que eram usadas na propaganda de Adolf Hitler no Departamento de Estatísticas. Mas Henryk Ross tinha uma missão pessoal secreta.
Sempre que tinha mais um trabalho de campo em Łódź, Henryk Ross aproveitava algum do seu tempo para documentar em segredo o quotidiano dos bairros judaicos por onde passava, pois havia naquela época cerca de mil bairros feitos pelos nazistas com o objetivo de confinar judeus, bairros estes que passaram a ser conhecidos como guetos. Os guetos nada mais eram do que polos concentradores de judeus, onde seus moradores podiam ser mortos das mais diversas formas, fosse pela privação de alimentos e execuções sumárias ou simplesmente triados para posteriormente serem encaminhados para campos de extermínio. À medida que a guerra se intensificava, Ross viu os residentes destes guetos serem deportados de forma contínua e progressivamente.
Ao sentir que esse também podia ser o seu destino, e como tinha arriscado muito ao tirar aquelas fotografias, começou a temer pela vida. Decidiu então guardar todas as imagens secretas numa caixa e, no inverno de 1944, enterrou-as junto à sua casa. Queria recuperá-las mais tarde e apresentá-las às gerações futuras “como provas dos crimes cometidos pelos nazistas contra a humanidade”.
Um ano mais tarde, quando o exército soviético libertou Łódź e o seu bairro, que com 200.000 pessoas era o segundo maior gueto da cidade, Henryk Ross voltou ao terreno antes ficava a sua casa para desenterrar as fotografias. Embora algumas tivessem sido destruídas pela água, outras estavam intactas e mostravam a realidade polonesa durante a II Guerra Mundial.
Algumas das fotos são chocantes e o acervo é hoje propriedade da Galeria de Arte de Ontário, no Canadá. NOTÍCIAS DE SIÃO partilha com seus leitores 77 destas fotos, num tributo silencioso aos 6 milhões de judeus assassinados nos campos de extermínio ou nas ruas e becos dos milhares de guetos espalhados por toda a Europa, guetos como os de Łódź, onde viveu Henryk Ross, onde viveu nosso amigo Ben Abraham. São imagens que publicamos não por prazer, mas sim por dever, pois não podemos permitir, jamais, que isso volte a acontecer, seja com o povo judeu ou com qualquer outro povo do mundo.
77 IMAGENS EXTREMAMENTE ESCLARECEDORAS DO GUETO DE ŁODŹ
Uma vista de acima da ponte da rua de Zigerska que mostra uma cabine da sentinela e as portas do gueto de Łódź. 1940.
Os edifícios do Gueto de Łódź em 1940
Um espantalho exibe o Magen (Escudo) de David, popularmente conhecido como a Estrela de David. 1940
Um homem resgata o Torá dos destroços de uma sinagoga na Rua Wolforska. 1940.
Jovens trabalham numa loja de artes, que era jocosamente chamada de “Ressorts”, em Łódź. 1940.
Na mesma loja, uma jovem dedica-se à costura. 1940.
Um judeu trabalha com o couro num dos “Ressorts”. 1940.
Duas mulheres deixam-se fotografar à janela. 1940.
Um homem entrega batatas no bairro judaico de Łódź, um dos poucos alimentos que se encontrava com menos dificuldade durante a II Guerra. 1940.
Uma festa tenta manter a esperança entre os judeus encurralados. 1940.
Um homem e um rapaz olham por uma janela. 1940.
Henryk Ross tirando fotografias para identificação do Departamento de Estatísticas nazista. 1940.
Crianças brincando nas ruas do gueto. 1940
Pessoas trabalhando na produção de pão, que era uma mistura de pouco trigo e muita serragem de madeira. 1940.
Outra imagem da mesma padaria, só que a confeccionar broas. 1940.
Uma criança num balanço montado à porta da sua casa. 1940.
Um sinal à entrada da área residencial dos judeus. Diz: “Judeus. Entrada proibida”. 1940.
Um homem caminha no inverno pelas ruínas da sinagoga destruída em 1939 pelos alemães. 1940.
Duas mulheres sentam-se na rua durante o início da II Guerra. 1941.
“Sopa para o Almoço”. Um grupo de homens come sopa junto a um edifício. 1941.
Um rapaz passa em frente à ponte na Rua Zigerska, chamada pelos residentes de “A Ariana”. 1941.
Duas mulheres observam a ponte na Praça Koscielyn, junto à Rua Zigerska. 1941.
Uma mãe segura o filho. O marido era um dos responsáveis pela organização no gueto, um tipo de policiamento instituído pelos alemães. 1941.
Um grupo de jovens, residentes em Łódź, alinha-se para foto. 1941.
Uma menina brinca no campo. 1941.
Crianças brincam no interior de uma casa e sorriem pela janela. 1941.
Crianças brincam à procura de pedras semi-preciosas num lago. 1941.
Uma mulher com a polícia junto a um arame farpado. 1942.
As pessoas mais doentes eram levadas diretamente para os campos de extermínio. 1942.
Homens arrastam uma carroça com pão confeccionados com serragem de madeira. 1942.
Polícia de Łódź encaminhando residentes para deportação. 1942.
Mulheres retiram as fezes dos residentes para serem enterradas no campo. 1942.
Um casal em dois momentos. 1942.
Uma enfermeira segura um bebê pouco antes de ser operado. Algumas deformações eram resultado de testes de “cientistas” nazistas, como Josef Mengele. 1942.
Corpos (e partes de corpos) no necrotério do gueto. 1942.
Prisão do bairro de Łódź na Rua Carnecki, um ponto de encontro para levar os judeus para os campos de extermínio. 1942.
Um policial judeu com a mulher e filho em Marysan. 1942.
Residentes do bairro esperam para serem deportados para os campos de extermínio. 1942.
Crianças levadas para o campo de extermínio de Kulmhoff. 1942.
Residentes organizam os seus bens deixados para trás depois da deportação para os campos de extermínio. 1942.
Um rapaz senta-se na terra em busca restos de comida. 1942.
Um homem doente deitado no chão. 1943.
Uma mulher sentada nas ruínas da sinagoga na Rua Wolborska. 1943.
Bebês deitados em cima de um colchão no chão de uma enfermaria. 1943.
Homens partem pedra na rua para construção. 1943.
Uma enfermeira dá comida a crianças num orfanato. Muitos tinham perdido os pais nos campos de extermínio. 1943.
Um grupo de mulheres com sacos e baldes passa ao lado das ruínas da sinagoga a caminho da deportação para os campos de extermínio. 1943.
Um homem escovando tecido numa fábrica. 1943.
Crânios e ossos no chão resultado das mortes nos campos de extermínio. 1943.
Uma mulher é fotografada perto do carro dos correios. 1943.
Baldes e pratos deixados para trás por habitantes de bairros, deportados para os campos de extermínio. 1944.
Uma fotografia quase destruída de uma garota sorridente. 1944.
Um casamento extremamente simples no gueto procurava dar um ar de esperança para os demais judeus confinados. 1944.
Judeus deportados para os campos de extermínio durante o inverno. 1944.
Um corpo para ser enterrado. Tem o número 54 na etiqueta. 1944.
Apresentação da peça “O Sapateiro de Marysan” na fábrica de sapatos da cidade. 1944.
Um grupo de judeus, trabalhadores forçados, a puxar cilindro usado na pavimentação de ruas. 1944.
Um cadáver abandonado no campo, já em estado de decomposição. 1944.
Uma deportação em massa dos residentes do bairro para os campos de extermínio. 1944.
Um rapaz entre a multidão. Todos estão a ser levados para campos de extermínio. 1944.
Fotografia de Stefania Schoenberg, mulher do fotógrafo Henryk Ross, à janela. 1944.
Uma criança vende produtos na rua. 1944.
Um cadáver é tirado do carro e levado para o necrotério. 1944.
Trabalhador de uma fábrica transporta palha para confecção de colchões. 1944.
Sob o olhar dos soldados nazistas e antes de sua própria execução: os poloneses condenados cavam seus próprios túmulos e os de outros já assassinados. 1944.
Judeus executados por enforcamento eram imagens diárias no gueto. 1944.
Mãe judia beijando o filho. Pouco tempo depois, ambos eram separados nos campos de extermínio. 1944.
Criança abandonada, provavelmente órfão, come alimento doado por judeus mais sensíveis. 1944.
Homem faminto caminha pelo gueto. 1944.
Um cadáver carregado através de uma multidão de residentes no gueto. 1944.
Jovem puxando carroça que transporta o caixão de um judeu morto. 1944.
Imagens da celebração da libertação da cidade já depois da guerra. 1945.
Um militar dá novas ordens logo a seguir à libertação de Łódź. 1945.
Depois de libertado o gueto de Łódź, Henryk Ross voltou para a sua casa e desenterrou os negativos das fotos que fizera ao longo de anos. As imagens reveladas provam as atrocidades nazistas contra os judeus. 1945.
Henryk Ross foi uma das testemunhas que depuseram durante o julgamento de Adolf Eichmann. Eichmann era o SS responsável pelo campo de extermínio de Dachau. Na imagem acima pode-se ver o procurador-chefe, Gideon Hausner ouvindo o testemunho de Ross. Depois de condenado, Eichmann foi executado por enforcamento na cidade de Ramla, sendo que até hoje foi a única vez que a pena de morte foi aplicada em toda a história do Moderno Estado de Israel. 1961.
David Ben Gurion cumprimenta Henryk Ross em Jerusalém em 1961.
Página do Álbum de Henryk Ross que possibilitou confirmar todas as atrocidades praticadas pelos nazistas no gueto de Łódź.
HENRYK ROSS | ANDS | ART GALLERY OF ONTARIO | OBSERVADOR
Excelente trabalho de recuperacao! Que El Shaday continue te ungindo. Saudades da familia Kedoshim. Debora de Souza Correa
Deus tenha piedade de todos nos e nos proteja dos homens feras,filhos do mal
*Wagner Rennó* Hospital Maria Thereza Rennó S.A. Rua Silvio Palma, 01 – Jairo Grilo Santa Rita do Sapucai / MG Contato: (35) 9.9961.0167
Fiquei arrepiada…