NÃO MISTUREM ALLAH COM ADONAI!
Golpe no Egito, explosões no Iraque, massacres na Síria, repressão na Arábia Saudita. O Oriente Médio está em ebulição e o correspondente internacional conta-nos tudo no noticiário da noite.
As imagens mostram jovens perseguidos nas ruas do Cairo, escombros de prédios em Bagdá, crianças a chorar em Damasco e uma mulher surrada em Riad.
Quando o correspondente aparece na tela a legenda diz que ele está em Jerusalém. Subjetivamente fica no ar a ideia de que tudo aquilo está a acontecer em Israel.
Durante anos conversei com pessoas de diversas classes sociais e percebi que muito das ideias distorcidas que se tem à respeito de Israel vem justamente dessa confusão involuntária que acontece na cabeça das pessoas.
No Oriente Médio não há país mais seguro para um correspondente internacional do que Israel, principalmente se este for do sexo feminino. E esta é a razão pela qual as empresas de comunicação optam por instalar seus profissionais nos confortáveis hotéis da capital do Estado judaico ao invés de mandá-los para os países onde a violência realmente está a acontecer. Só que isso acaba por gerar confusão na cabeça dos telespectadores menos atentos e aquilo que era para ser uma informação acaba por torna-se justamente o oposto disso.
E o problema agrava-se quando esta desinformação junta-se ao antissemitismo latente na sociedade ocidental.
Há alguns dias descobriu-se que o pai do menino sírio Aylan Kurdi mentiu. A criança ficou mundialmente conhecida quando seu corpo sem vida apareceu boiando numa praia grega.
O portal brasileiro brasileiro G1 publicou matéria dizendo que o pai de Aylan havia mentido. E vejam só o comentário postado por um leitor daquele website: “Fica frio camarada, que judeu gosta de mentir, roubar, matar e destruir e ninguém sabe que eles fazem isso”.
Judeu?! Como judeu se o refugiado é sírio?
Já escrevi neste blogue que quando mudei-me para Israel algumas pessoas chamaram-me de louco. Diziam-me que estava levando minha família para um ambiente hostil. No fundo o que eles queriam dizer era: Como você tem coragem de levar esposa e filhos para um país daqueles?!
Pensei nisso enquanto decidia se deveria ou não publicar no Notícias de Sião o resumo alargado de uma matéria que li no The New York Times. As informações são tristes, os detalhes torpes e, principalmente, não tem nada a ver com Israel, foco principal do blogue.
Depois de muito pensar achei conveniente publicar. O objetivo desta reportagem é mostrar a truculência dos inimigos de Israel, truculência esta que é perpetrada em nome do seu deus, Allah; baseado nas espúrias escrituras do seu profeta, Maomé; e direcionada contra a parte mais frágil de uma população minoritária no Oriente Médio, as crianças e mulheres yazidis.
Escrita pelo jornalista Rukmini Callimachi e publicada originalmente no The New York Times, eis aqui a parte que mais nos interessa da reportagem.
ESTADO ISLÂMICO CONSAGRA UMA TEOLOGIA DO ESTUPRO
Afirmando se basear no Alcorão, o Estado Islâmico codifica escravidão sexual em regiões conquistadas do Iraque e Síria e usa a prática como uma ferramenta de recrutamento.
Criança yazidi, minoria alvo de rapto para escravidão sexual de combatentes islâmicos.
Momentos antes de estuprar uma menina de 12 anos, o combatente do Estado Islâmico tirou um tempo para explicar que o que ele estava prestes a fazer não era pecado. Como a menina pré-adolescente era de uma religião diferente do Islã, o Alcorão não só lhe dá o direito de estuprá-la como o estimula e o encoraja fazê-lo, diz o combatente.
Ele amarrou as mãos da menina e a amordaçou. Em seguida, ajoelhou-se ao lado da cama e prostrou-se numa reza islâmica antes de subir em cima da criança.
Quando acabou, ele ajoelhou-se e rezou novamente, encerrando o estupro com atos de devoção religiosa.
“Eu dizia que estava doendo – por favor, pare!”, disse a menina, cujo corpo é tão pequeno que um adulto poderia circundar sua cintura com as duas mãos. “Ele me disse que, de acordo com o Islã, ele está autorizado a estuprar uma incrédula. Também disse que ao me estuprar ele chega mais perto de Allah”, disse a menina em uma entrevista ao lado de sua família em um campo de refugiados, para onde escapou após 11 meses de cativeiro.
O estupro sistemático de mulheres e meninas da minoria religiosa yazidi tornou-se profundamente enraizado na organização e na teologia radical do Estado Islâmico desde que o grupo anunciou que estava restaurando a escravidão como instituição. Entrevistas com 21 mulheres e meninas que recentemente escaparam do Estado Islâmico, bem como uma análise de comunicações oficiais do grupo, mostram que a prática tem sido consagrada nos princípios fundamentais do grupo.
O comércio mulheres e meninas yazidi criou uma infraestrutura persistente, com uma rede de armazéns onde as vítimas são mantidas, salas de visualização onde são inspecionadas e comercializadas, e uma frota dedicada de veículos usados para transportá-las.
Um total de 5.270 mulheres yazidis foram sequestradas no ano passado, e pelo menos 3.144 ainda são mantidas em cativeiro, de acordo com os líderes comunitários. Para lidar com as mulheres, o Estado Islâmico desenvolveu uma burocracia detalhada de escravidão sexual, incluindo contratos de venda autenticados pelos tribunais islâmicos do próprio Estado Islâmico. E a prática tornou-se uma ferramenta de recrutamento estabelecido para atrair homens de sociedades muçulmanas profundamente conservadoras, onde o sexo casual é tabu e o namoro é proibido.
Um crescente corpo de memorandos de política interna e discussões teológicas estabeleceu diretrizes para a escravidão, incluindo um extenso manual de “como fazer” emitido pelo Departamento de Investigação e Fatwa do Estado Islâmico no mês passado. Repetidamente, a liderança do Estado Islâmico tem enfatizado uma leitura estreita e seletiva do Alcorão e outras normas religiosas para justificar não só a violência, mas também para elevar e comemorar cada estupro como espiritualmente benéfico, até mesmo virtuoso.
“Toda vez que vinha me estuprar, ele rezava”, disse F, uma menina de 15 anos que foi capturada próximo ao Monte Sinjar há um ano e foi vendida para um jihadista iraquiano de aproximadamente 20 anos. Como algumas outras entrevistadas pelo The New York Times, ela quis ser identificada apenas por sua primeira inicial por causa da vergonha associada ao estupro.
“Ele ficava me dizendo que isso é ibadah“, disse ela, usando um termo do Alcorão que significa “adoração“.
A menina ficou nove meses presa como escrava sexual, mas conseguiu escapar com a ajuda de contrabandistas. Ao falar sobre o que aconteceu nesses nove meses ela diz: “Ele dizia que estuprar-me era a sua forma de rezar para Allah. Então eu lhe dizia: ‘O que você está fazendo é errado e isso não vai levá-lo para mais perto de Allah’. Mas ele dizia que ‘isso é permitido, porque é halal‘”, ou seja, diante de Allah isso é “permitido”, é “autorizado”.
CONQUISTA CALCULADA
Mães yazidis desesperadas depois do rapto de suas filhas
A introdução formal da escravidão sexual sistemática no Estado Islâmico data de 03 de Agosto de 2014, quando seus combatentes invadiram as vilas no flanco sul do Monte Sinjar, um maciço de rocha parda no norte do Iraque.
Seus vales e desfiladeiros são o lar dos yazidis, uma pequena minoria religiosa que representam menos de 1,5% da população estimada do Iraque de 34 milhões de pessoas.
A ofensiva na montanha veio apenas dois meses depois da queda de Mosul, a segunda maior cidade do Iraque. No início, parecia que o avanço posterior na montanha era apenas mais uma tentativa de estender o território controlado por combatentes do Estado islâmico.
Quase imediatamente, no entanto, houve sinais de que o seu objetivo desta vez seria diferente.
Sobreviventes dizem que homens e mulheres foram separados na primeira hora de sua captura. Os rapazes adolescentes foram orientados a levantar a camisa, e os que tinham cabelo nas axilas foram encaminhados para se juntar aos seus irmãos mais velhos e pais. Aldeia após aldeia, homens e rapazes mais velhos foram expulsos ou marcharam para campos nas proximidades, onde foram forçados a deitar-se no chão e depois executados.
As mulheres, meninas e crianças, no entanto, foram levadas em caminhões.
“A ofensiva na montanha era tanto uma conquista sexual quanto ganho territorial”, disse Matthew Barber, especialista da Universidade de Chicago em questões sobre a minoria Yazidi. Ele estava em Dohuk, perto do Monte Sinjar, quando o ataque começou no verão passado e ajudou a criar uma fundação que presta apoio psicológico aos fugitivos, que somam mais de 2.000, de acordo com ativistas comunitários.
Com quinze anos de idade, F diz que sua família de nove pessoas estava tentando escapar, em alta velocidade nas trilhas cheias de curvas da montanha, quando o motor do velho Opel da família super-aqueceu. Ela, sua mãe e suas irmãs, de 4, 7 e 14 anos, desceram impotentes do carro e foram imediatamente cercadas por um grupo de combatentes do Estado Islâmico fortemente armados.
“Imediatamente, separaram os homens das mulheres”, relata a jovem. Ela, a mãe e as irmãs foram levadas pela primeira vez em caminhões para a cidade mais próxima no Monte Sinjar. “Lá, eles me separaram da minha mãe. As jovens solteiras foram forçadas a entrar em um ônibus.”
Os ônibus eram brancos, com uma faixa pintada ao lado da palavra “Hajj” [nome da romaria anual que os muçulmanos fazem à Meca], sugerindo que o Estado Islâmico havia roubado os ônibus do governo iraquiano, ônibus estes que são utilizados no transporte de peregrinos para a peregrinação anual a Meca. “Foram tantas as mulheres e meninas yazidis forçadas a entrar nos ônibus que tiveram que sentar-se no colo umas das outras”, disse F.
Assim que os ônibus saíram, as mulheres notaram que as janelas estavam tapadas com cortinas, algo que não é comum nesse tipo de ônibus. Os combatentes tomaram este cuidado, pois sabiam que transportariam um grande número de mulheres que não teriam as cabeças cobertas com burcas ou lenços.
O relato de F, incluindo a descrição física dos ônibus, as cortinas e a maneira como as mulheres foram transportadas, é o mesmo de muitas outras vítimas entrevistadas para este artigo. Elas descreveram um conjunto semelhante de circunstâncias, embora tenham sido sequestradas em dias diferentes e em locais a quilômetros de distância.
F diz que foi levada à cidade iraquiana de Mosul, que fica cerca de seis horas de distância de onde foi raptada. Lá, as mulheres e crianças foram levadas para diversos locais. Algumas foram para o Galaxy Wedding Hall [um luxuoso local de casamentos], outras para um palácio dos tempos de Saddam Hussein, outras para a prisão Badoosh e outras para o Diretório da Juventude de Mosul. As mulheres e meninas eram tantas que os combatentes também tiveram que utilizar as escolas de ensino fundamental e os edifícios municipais das cidades de Tal Afar, Solah, Ba’aj e Sinjar City.
Como seriam mantidas em cárcere por alguns dias ou meses, as meninas foram novamente colocadas nos ônibus e depois distribuídas para grupos menores de combatentes no interior do Iraque ou na Síria, onde foram negociadas e vendidas como escravas sexuais.
“Tudo foi 100% planejado”, disse Kheder Domle ao The New York Times. Domle é um ativista da comunidade yazidi que mantém uma base de dados detalhado de quase todas as vítimas. “Falei por telefone com a primeira família que chegou ao Diretório da Juventude em Mosul e a Câmara já estava preparado para elas. Eles tinham colchões, pratos e utensílios, alimentos e água para centenas de pessoas”.
Os relatórios pormenorizados da Human Rights Watch e da Anistia Internacional chegaram à mesma conclusão sobre a natureza organizada do comércio de escravas sexuais.
Em cada local, os sobreviventes dizem que os jihadistas do Estado Islâmico primeiro realizam uma contagem de suas cativas do sexo feminino.
Dentro do grande salão de banquetes do Galaxy Hall, F ficou sentada no chão de mármore, espremida entre outras meninas e adolescentes. Pelo que ela estima, havia mais de 1.300 meninas yazidis sentadas, agachadas, espalhadas e escoradas nas paredes do salão de baile, um número que é confirmado por várias outras mulheres detidas no mesmo local.
As mulheres resgatadas contaram praticamente a mesma história: Três soldados do Estado Islâmico entravam munidos de um papel para anotações. Começaram com as mulheres, a quem perguntavam o nome completo, a idade, a cidade natal, se eram casadas ou não e se tinham filhos.
Durante dois meses, F foi mantida dentro do salão Galaxy até que um dia os combatentes passaram a levar também as mulheres mais jovens. As que resistiam eram arrastadas pelos cabelos, diz F.
No estacionamento a mesma frota de ônibus Hajj estava esperando para levá-las para o seu próximo destino. Junto com outras 24 meninas e mulheres jovens, F foi levada para uma base do exército no Iraque. E foi lá, no estacionamento, que ela ouviu a palavra “Sabaya” pela primeira vez.
“Eles riram e zombaram de nós, dizendo: ‘Você é nossa Sabaya.’ Eu não sabia o significado dessa palavra”, disse ela. Mais tarde, o líder local Estado Islâmico explicou que significava “escrava”.
“Ele nos disse que Taus Malik” – um dos sete anjos a quem os yazidis oram – “não é Deus. Ele disse que Taus Malik é o diabo e que, por você adorar o diabo, você pertence a nós. Nós podemos vendê-la e usá-la como acharmos melhor.”
O comércio sexual do Estado Islâmico parece estar baseado unicamente em escravizar mulheres e meninas da minoria yazidi. Até agora, não houve nenhuma campanha generalizada visando escravizar as mulheres de outras minorias religiosas, disse Samer Muscati, o autor do recente relatório da Human Rights Watch. Esta informação também é confirmada por líderes comunitários, funcionários de governos e outros ativistas dos direitos humanos.
Matthew Barber, especialista em minorias na Universidade de Chicago, disse que o Estado Islâmico focou suas atenções nas meninas yazidis porque os muçulmanos consideram este povo como politeístas, um povo cuja religião está fundamentada na tradição oral e não numa escritura sagrada. Aos olhos do Estado Islâmico, os yazidis são marginais incrédulos desprezíveis, piores que cristãos e judeus, pois estes, segundo os muçulmanos, teriam algumas proteções limitadas de acordo com o Alcorão, pois são considerados “Povos do Livro”.
Em Kojo, uma das mais meridionais aldeias no Monte Sinjar e entre a pista da fuga, os moradores decidiram ficar, acreditando que eles seriam tratados como os cristãos de Mosul tinham sido tratados meses antes. Mas no dia 15 de Agosto de 2014, o Estado Islâmico ordenou aos moradores que fossem para uma escola no centro da cidade.
Quando chegou lá, Aishan Ali Saleh, 40 anos, encontrou os mais velhos da comunidade negociando com o Estado Islâmico, perguntando se poderiam ser autorizados a entregar seu dinheiro e ouro em troca de passagem segura.
Os jihadistas inicialmente concordaram e estenderam um cobertor, onde Saleh colocou um pingente em forma de coração e seus anéis de ouro, enquanto os homens deixaram notas amassadas.
Em vez de deixá-los ir, começaram a empurrar os homens para fora, com destino à morte.
Algum tempo depois, a frota de ônibus chegou e as mulheres, meninas e crianças foram levadas.
O MERCADO
Jovem yazidi acorrentada é levada para o mercado de escravas sexuais do Estado Islâmico
Meses mais tarde, o Estado Islâmico deixou claro em sua revista on-line Dabiq que a campanha de escravizar mulheres e meninas yazidis tinha sido extremamente planejada.
“Antes da tomada de Sinjar, os especialistas da sharia no Estado Islâmico foram incumbidos de investigar os yazidis”, disse o artigo em Inglês, com a manchete “O renascimento da escravidão antes da hora”, que apareceu na edição de Outubro de Dabiq.
O artigo deixou claro que, para os yazidis, não havia nenhuma possibilidade de pagar um imposto conhecido como jizya para permanecer em liberdade, “ao contrário dos judeus e cristãos”.
“Após a captura, as mulheres e crianças yazidis foram, então, divididas de acordo com a sharia entre os combatentes do Estado Islâmico que participaram nas operações de Sinjar, depois de um quinto das escravas serem transferidas para a autoridade do Estado Islâmico para serem divididas”, como objetos, disse o artigo da revista muçulmana.
O Estado Islâmico cita versos do Alcorão ou histórias da Sunna, as tradições baseadas nos ditos e feitos do Profeta Maomé, para justificar o tráfico de seres humanos.
Capa da edição que dogmatizou o estupro de crianças como teologicamente compatível com o islamismo
SABAYA
As mais jovens e mais bonitas entre as mulheres e meninas foram compradas logo nas primeiras semanas após a captura. Outras – especialmente mulheres mais velhas casadas – descreveram como foram transportadas de um local para outro, passando meses em verdadeiros estábulos humanos, até que um potencial comprador fizesse um lance por elas.
Seus captores pareciam ter um sistema no lugar, repleto de sua própria metodologia de inventariação das mulheres, bem como o seu próprio léxico. Mulheres e meninas eram chamadas de “sabaya”, seguido do seu nome. Algumas foram compradas por atacadistas, que as fotografaram e numeraram, para anunciá-las aos potenciais compradores.
Osman Hassan Ali, um homem de negócios que tem resgatado com sucesso numerosas mulheres yazidis, disse que fingiu ser um comprador, a fim de receber as fotografias. Ele compartilhou uma dúzia de imagens, cada um mostrando uma mulher yazidi sentada em uma sala vazia em um sofá, de frente para a câmera. Na borda da fotografia estava escrito, em árabe, “Sabaya No. 1”, “Sabaya No. 2”, e assim por diante.
Os edifícios onde as mulheres eram mantidas presas até o dia da venda às vezes incluíam uma sala de exibição, uma espécie de vitrine de escravas.
“Quando eles nos colocaram no edifício, disseram que havíamos chegado ao ‘Sabaya Mercado'”, disse uma vítima de 19 anos de idade, cuja inicial é I. “Eu percebi então que estava agora em um mercado de escravos”.
Ela estimou que havia pelo menos 500 outras mulheres e meninas solteiras no edifício de vários andares, sendo que a mais jovem delas tinha apenas 11 anos. Quando os compradores chegavam, as meninas eram levadas, uma a uma, para uma sala separada.
“Os emires sentaram-se contra a parede e nos chamaram pelo nome. Tivemos que sentar em uma cadeira de frente para eles. Tínhamos que olhar para eles, e antes de entrar, eles tiraram nossos cachecóis e qualquer coisa que pudesse ser usada para cobrir a nós mesmas”, disse a jovem.
“Quando foi a minha vez, eles me fizeram levantar quatro vezes, pedindo que eu girasse, de modo que eles pudessem observar-me melhor”.
As cativas também foram forçadas a responder perguntas íntimas, incluindo informações sobre a data exata de seu último ciclo menstrual. Elas perceberam que os jihadistas estavam tentando determinar se estavam grávidas, de acordo com uma regra de Shariah afirmando que um homem não pode ter relações com sua escrava se ela estiver grávida.
Jovens yazidis resgatadas depois de meses de estupros: olhares vazios.
PROPRIEDADE DO ESTADO ISLÂMICO
O uso de escravidão sexual pelo Estado Islâmico inicialmente surpreendeu até mesmo mais ardentes defensores do grupo, muitos dos quais brigaram com os jornalistas após os primeiros relatos de estupro sistemático.
A liderança do Estado Islâmico tem procurado justificar a prática para seu público interno. Após o artigo inicial no Dabiq, o assunto voltou a ser discutido noutra publicação, em um editorial na edição de Maio passado, onde expressão “dor e consternação” com o fato de que alguns dos simpatizantes do próprio grupo haviam questionado a instituição da escravidão.
“O que realmente me alarmou foi que alguns dos partidários do Estado Islâmico começaram a negar o assunto, como se os Soldados do Califado tivessem cometido um erro ou feito algo de mal”, escreveu o autor do editorial. “Eu escrevo isto como o gotejamento de letras de orgulho,” continua. “Nós temos de fato invadido e capturado as mulheres kafirah e as levamos como ovelhas ao fio da espada”, concluiu o editorial. Kafirah é o termo pelo qual eles tratam os infiéis.
Em um panfleto publicado na Internet em dezembro, o Departamento de Estado Islâmico da Investigação e da Fatwa detalhou as práticas, inclusive explicando que as escravas pertencem ao espólio do lutador que as capturou e, portanto, podem ser vendidas para outro homem e eliminadas como qualquer outra propriedade após sua morte.
Fugitivas recentes descrevem uma intrincada burocracia em torno do seu cativeiro, com o seu estatuto como uma escrava registrado em um contrato. Quando seu proprietário as vendessem a outro proprietário, um novo contrato seria elaborado, como a transferência de um título de propriedade. Ao mesmo tempo, as escravas também podem ser postas em liberdade, e os combatentes acreditam receber uma recompensa celestial por fazê-lo.
Embora raro, isso criou uma via de escape para as vítimas.
Uma das escravas, com 25 anos, que escapou no mês passado, identificada na reportagem do The New York Times pela inicial A, descreveu como o seu dono, um líbio, um dia lhe entregou um pedaço de papel. Ele explicou que tinha terminado a sua formação como homem-bomba e estava planejando explodir-se e, portanto, estava ajustando sua liberdade.
Rotulado como “Certificado de Emancipação”, o documento foi assinado pelo juiz da província ocidental do Estado Islâmico. A mulher Yazidi apresentou-o no controle de segurança quando deixou a Síria para voltar ao Iraque, onde encontrou a família no passado mês de julho.
O Estado Islâmico recentemente deixou bem claro que o estupro de mulheres cristãs e judias capturadas no campo de batalha é também admissível, de acordo com um novo manual de 34 páginas publicado neste ano pelo Departamento de Investigação e Fatwa do grupo terrorista.
A única proibição é ter relações com uma escrava grávida. O manual descreve a forma como um proprietário deve esperar pelo ciclo menstrual da sua escrava a fim de “garantir que não há nada no seu ventre” antes de ter relações sexuais com ela. Das 21 mulheres e meninas entrevistadas pelo New York Times, as únicas que não tinham sido estupradas eram as mulheres que já estavam grávidas no momento da sua captura, bem como aquelas que estavam na menopausa.
Além disso, parece não haver limite para o que é sexualmente admissível. Estupro de crianças é explicitamente tolerado: “É permitido ter relações sexuais com a escrava que não tenha atingido a puberdade, se ela estiver apta para a relação sexual”, segundo uma tradução feita pelo Instituto de Pesquisa de Mídia do Oriente Médio de um panfleto publicado no Twitter em dezembro do ano passado.
Um mulher Yazidi de 34 anos, que foi comprada e repetidamente estuprada por um combatente árabe na cidade síria de Shadadi, descreveu como ela sofreu menos que a segunda escrava na casa – uma menina de 12 anos que foi estuprada dia após dia, apesar de sangrar profundamente.
“Ele destruiu o seu corpo. Ela estava com uma grave infecção. O jihadista continuou chegando e me perguntando: ‘Por que ela cheira tão mal?’ Eu disse que ela tinha uma infecção e que precisava de tratamento, mas ele, impassível, ignorou a agonia da criança, dando continuidade ao ritual de rezar a Allah antes e depois de cada estupro”.
“Eu disse a ele: ‘Ela é só uma menina’. Ele então me respondeu: ‘Não, ela não é uma menina, ela é uma escrava, uma escrava que sabe exatamente como fazer sexo. E fazer sexo com ela agrada a Allah.’”
Que Deus nos ajude e nos guarde destas pessoas que usam seu santo nome para fazer o mal
Amai a Deus sobre todas as coisas e
Amai o proximo como a si mesmo
Wagner, observe bem que deus aqui é grafado com letra minúscula, pois trata-se de Allah.
Isso tudo é muito repugnante. Abominável, com todas as letras. Que as essas mulheres seja permitido ouvir da palavra de Deus (do Deus verdadeiro), do Seu amor e poder restaurador.
Roberto, gostaria de conversar você sobre autorização de divulgarmos esse texto importante em uma revista.
Mandei um email o endereço [email protected]…é esse mesmo.
Por favor, me dê um retorno.
Att,
Resposta encaminhada por e-mail.