O DIA EM QUE A ALEGRIA PELO RECEBIMENTO DA TORAH FOI MANCHADA DE SANGUE
A destruição defronte ao nº 42 da Rua Copernic no sofisticado bairro de Île-de-France
O cair da tarde do dia 03 de outubro de 1980 marcava o início de uma festa judaica chamada Simchat Torah, ou “A Alegria da Lei”. Inspirada no versículo 72 do Salmo 119, é um dos momentos mais festivos do calendário judaico. Em Israel é comum ver judeus conduzindo exemplares da Torah pelas ruas, a dançar e a festejar.
“Melhor é para mim a lei da tua boca do que milhares [de peças] de ouro ou prata”, diz o salmisto. E neste dia os judeus regozijam-se pelo SENHOR lhes ter dado esta Lei.
Festejar pelas ruas com a Torah nos braços, infelizmente não é uma prática muito segura em diversos países ocidentais. O antissemitismo coloca em risco a integridade dos judeus e compromete o sentido da festa, que é a manifestação da alegria. Por conta disso, é comum para os judeus fazer a festa reservadamente, conduzir a Torah com cânticos numa caminhada, em círculos, dentro das próprias sinagogas.
O dia 03 de outubro amanheceu como um dia normal para os judeus de Paris, que assistiam aos serviços religiosos na sinagoga da União Liberal Israelense, instalada na Rua Copernic, nº 42 na sofisticada Île-de-France.
É provável que as poucas dezenas de judeus reunidos no recinto não estivessem receosos, pois longe iam os tempos em que o terror atingira a comunidade judaica francesa. O último atentado acontecera há 39 anos, na mesma festa da Simchat Torah do dia 03 de outubro de 1941, no auge da Segunda Guerra Mundial, e desde então a calma reinava nas comunidades judaicas locais. Os tempos haviam mudado e os judeus presentes naquele evento estavam descontraídos.
Quando os relógios marcavam 18H38 uma imensa explosão instalou o caos, a destruição e a morte. O terror estava de volta.
Uma motocicleta estacionada em frente ao templo, com uma mochila contendo dez quilos de explosivos, causou a destruição de boa parte da rua, incluindo o prédio da sinagoga. O telhado de vidro desabou sobre os fiéis, uma das portas foi arrancada, os automóveis que estavam nas proximidades foram lançados para o ar e num raio de 150 metros quase todas as vitrines das lojas foram estilhaçadas.
Philippe Bouissou, um jovem de 22 anos, que passava pela Copernic na sua motocicleta morreu instantaneamente. Aliza Shagrir, mãe de dois filhos e esposa do produtor israelense de televisão Micha Shagrir, estava a caminho de um jantar com a amiga Tamar Golan, uma jornalista que residia na esquina da Rua Copernic, quando foi atingida pela explosão. Também morreu instantaneamente. Jean Michel Barbé, um francês que tinha amigos na comunidade judaica e que costumava estar presente nas solenidades festivas, foi atingido e também morreu. No lado oposto da rua, nas dependências do Hotel Victor Hugo, estava a trabalhar o emigrante português Hilário Lopes-Fernandez, que foi ferido gravemente e veio a falecer dois dias depois. No interior da sinagoga reinava a mais completa destruição e 42 pessoas estavam gravemente feridas.
Nos dois anos seguintes, 73 episódios de terror aconteceram em diversas partes da Europa. O objetivo era sempre qualquer alvo judaico. Foram anos de violência implementados pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que sob direção do facínora Yasser Arafat semeou o terror e o medo em diversas partes do mundo.
Infelizmente os europeus àquela altura acabaram por encarar os judeus como o problema e não os perpetradores dos atentados.
Durante uma visita ao hospital onde se encontravam os feridos, o rabino Michael Williams, líder da sinagoga destruída, foi censurado por um membro da equipe médica que os assistia: “Por que as suas sinagogas são construídas no centro de Paris?!”, indagou o profissional. “Elas deveriam estar na periferia, para não prejudicar os franceses inocentes”, concluiu rispidamente o médico plantonista.
Um ano depois, após outro ataque o contra a sinagoga de Bruxelas, Phillippe Moureau, ministro da justiça belga, comentou: “Não podemos colocar um policial na cada porta de cada judeu”.
De vítima, o judeu passava a ser responsável pelo problema. Quatro décadas depois, os europeus se dão conta de que todos nós somos vítimas do terrorismo e não apenas os judeus.
Em 14 novembro de 2014, 34 anos após uma longa investigação e um complicado processo de extradição, desembarcou em Paris o libanês Hassan Diab, até agora o único acusado do tenebroso atentado.
Hassan Diab (acima) era ligado à Organização para a Libertação da Palestina e hospedou-se em Paris com documentos falsos. A análise da ficha que preencheu no hotel onde se hospedou é um dos documentos mais incriminatórios do processo.
Após o atentado, Hassan Diab viveu pacatamente no Canadá, dando aulas de Sociologia na Universidade de Ottawa, e agindo como se fosse um cidadão comum. Encontra-se hoje na na prisão de Fleury-Mérogis, um centro correcional de alta segurança no sul de Paris, onde aguarda o julgamento final do processo.
A festa da Simchat Torah de 1980 ficou marcada para sempre na comunidade judaica, de Paris e do mundo, com o dia em que a alegria pelo recebimento da Torah foi substituída pelos gemidos de dor e pela morte.
E isso aconteceu no dia 03 de outubro de 1980, há exatos 37 anos.
Aos que tombaram defendendo a fe ,nossas oraçoes
aos que ficaram,nossa vigilancia
a Deus ,a vingança