O AEROPORTO MAIS SEGURO DO MUNDO
A tranquilidade do Aeroporto Ben Gurion. Clique na imagem para ver detalhes
Um Boeing da El Al taxia imponente na pista do Aeroporto Internacional Ben Gurion em Tel Aviv. Antes de aproximar-se da rampa de embarque, cruza com o gigantesco Airbus da Lufthansa que já lá está parado. Estamos em 2010 e a Segunda Guerra Mundial terminou há 65 anos.
A imagem de um avião israelense deslizando suavemente ao lado de um avião alemão chamou-me a atenção e resolvi registrar a cena. Olhei para os lados, notei que esva sozinho naquele local, peguei uma pequena máquina fotográfica, apontei e disparei. Tão logo terminei de clicar fui abordado por um jovem que apareceu de repente, surgindo sabe-se lá de onde.
Discreto, tirou do bolso uma identificação, que me apresentou ligeiramente, mal dando oportunidade de saber de quem se tratava. “O que você fotografou?”, perguntou-me diretamente e sem cerimônias.
Acostumado com a seriedade da segurança israelense, onipresente em quase todos os locais públicos do Estado hebraico, automaticamente mostrei-lhe a foto que havia tirado. Não entrei em detalhes quanto ao significado que a imagem tinha para mim e perguntei-lhe se devia apaga-la ou não. “Não”, foi a resposta.
Diversas vezes, tanto no tempo em que morei em Israel quanto nas outras vezes em que visitei a Terra Santa, tive que deletar algumas fotos que havia tirado. Sou curioso e gosto de registrar cenas inusitadas. Nem todas recebem aprovação das autoridades responsáveis pela segurança. Respeito as ordens sem questionar. Entendo as razões israelenses.
Naquela tarde no Ben Gurion, perguntei ao agente quais áreas poderiam ser fotografadas e quais eu deveria evitar. Ele me disse que eu podia ficar à vontade, mas que evitasse fotografar apenas as áreas sensíveis à segurança. E apontou-me algumas delas. Respeito as diretrizes até hoje.
Todas as vezes que ouço notícias sobre atentados terroristas em aeroportos, como os de Bruxelas em março e os de Istambul nesta semana, lembro-me deste episódio. Estes atentados ocorreram justamente em áreas que são terminantemente proibidas de serem fotografadas no Aeroporto Internacional Ben Gurion.
Uma aparentemente inocente foto pode servir de mapa para o planejamento de mortíferos atentados. As autoridades israelenses sabem disso. As autoridades israelenses não permitem que seu sistema de defesa seja desnudado. Bruxelas e Ancara desprezaram estes cuidados. Pagaram o preço. Altíssimo.
COMO ATUA A SEGURANÇA NO AEROPORTO INTERNACIONAL DE TEL AVIV
Policial próximo à área de partidas do Aeroporto David Ben Gurion em Tel Aviv, Israel.
Interrogatórios, adesivos indicativos do grau de risco de cada passageiro, revistas constantes. Em Israel é preciso passar por muitos controles antes de entrar no aeroporto, que está localizado em Lod, uma cidade de médio porte pertencente à dunam central de Israel. A maior e mais importante cidade da região é Tel Aviv, razão pela qual o aeroporto é também conhecido como Aeroporto Internacional de Tel Aviv.
O atentado no aeroporto de Istambul, em 28 de junho, voltou a colocar o tema da segurança nesses centros de grande concentração de pessoas na ordem do dia. Antes, a 22 de março, a Europa voltara a sangrar com os ataques terroristas que provocaram 35 mortos em Bruxelas, naquele que foi o primeiro atentado em território europeu em 2016.
Antes disso, a mesma Istambul, Jacarta, Ancara e a Costa do Marfim já tinham sido atacadas. No dia 27 de Março, um homem-bomba explodiu-se na cidade paquistanesa de Lahore, provocando 72 mortes. A ameaça terrorista é cada vez mais global e levanta a questão de se saber o que deve ser feito para prevenir este tipo de ataque.
A questão não é nova e está longe de ser resolvida. As soluções não são infalíveis nem ideais e estão longe de gerar consenso.
Após os recentes ataques em Bruxelas e Istambul, ataques estes que aconteceram nas zonas de check-in, onde não existem controles, novas de medidas de segurança nos aeroportos estão a ser estudadas em todo o mundo. Em Março, logo após os atentados de Bruxelas, o jornal ABC apresentou o aeroporto de Israel como um caso de sucesso a ser estudado pelos demais países.
A matéria do diário espanhol dizia que o aeroporto internacional Ben Gurion é “um dos mais seguros do mundo” – para muitos é “o mais” – uma fama que foi conquistada a um preço muito alto.
Em Israel, os controles de segurança começam ainda antes de se entrar no aeroporto. A estrada de acesso é vigiada por agentes e os carros passam por uma “inspeção visual”. Todos os passos são monitorados por policiais fardados ou à paisana que a qualquer momento questionam os passageiros ou quem os acompanha sobre a sua nacionalidade, o destino para onde viajam, a razão da visita ao país ou qualquer outra questão que lhes pareça pertinente. As perguntas podem ser, por vezes, mais pessoais e incluem os lugares que visitaram (no país e ao estrangeiro) e quem organizou a viagem. Nestes casos, os passageiros devem cooperar, caso contrário levantam suspeitas.
Depois de vários níveis de controle, um adesivo amarelo com dez dígitos é colado na parte de trás de cada passaporte. O primeiro desses algarismos indica o grau de perigo que cada passageiro representa, numa escala de 1 a 6. Recebem o número 1 passageiros altamente confiáveis, normalmente israelenses ligados ao próprio serviço de segurança. O número 2 é atribuído à maioria dos passageiros comuns, israelenses ou não, que não oferecem risco algum. À partir daí cada número acrescido piora a situação do dono do passaporte.
Para os passageiros com um nível baixo de ameaça, o resto do processo é em tudo semelhante ao dos restantes aeroportos. Para os outros, segue-se um extensivo interrogatório e revisões pormenorizadas às bagagens, equipamentos e tudo o que for considerado necessário pelas autoridades. No final do processo, geralmente mesmo antes de o avião decolar, os passageiros não totalmente confiáveis são escoltados até ao lugar que lhes foi destinado.
Os níveis mais altos de segurança, 5 e 6, são, geralmente, reservados aos árabes israelenses, aos muçulmanos e aos estrangeiros hostis. Num artigo da Business Insider em que descreve a sua passagem pelo aeroporto, Chris Weller descreveu o processo como “extremo sim, mas eficaz”.
A SEGURANÇA TEM UM ALTO CUSTO, MAS VALE A PENA.
Ativista estrangeira sendo detida no Aeroporto Ben Gurion. Recebeu um número 6 no passaporte e dificilmente voltará um dia a Israel. Para os israelenses, um aeroporto é lugar de chegadas e partidas e não de vandalismos e protestos.
Há alguns anos, organizações internacionais de direitos humanos consideraram o sistema “altamente discriminatório”, acusando Israel de ser “injusto com as minorias árabes do país”. Israel não se importa com as acusações e continua a aprimorar os controles, de forma que o cidadão comum, pacífico, possa desfrutar de um ambiente seguro, mesmo que para isso tenha que pagar um preço alto em termos de tempo.
O sistema de segurança do Ben Gurion, um aeroporto que recebe em média 15 milhões de passageiros por ano, protege o terminal como uma espécie de cebola gigante. Camada por camada homens e mulheres, de uniforme ou à paisana, e câmeras de segurança seguem todos os passageiros e seus acompanhantes até o embarque no final no avião.
“O passageiro tem que ser paciente, tem que esperar e responder às perguntas com franqueza, sem buscar o confronto e sem fazer piadinhas. Os agentes têm tempo de sobra, enquanto você tem um avião para pegar. Quanto mais fácil você tornar as coisas para eles, mais fácil as coisas vão ficar para você”, disse o jornal israelense Haaretz numa série de três artigos sobre as medidas de controle em um país onde a segurança reina absoluta, porque na Terra Santa as coisas são assim. Israel não tem outra escolha.
Quem viaja utilizando aviões sabe que o elemento emocional tem um peso significativo no conforto da viagem. E para os passageiros que embarcam no Ben Gurion Airport a segurança e a tranquilidade são valores agregados complementares.
Em toda a história, jamais houve aviões sequestrados depois de levantarem voo em Tel Aviv. Há mais de 30 anos nenhum avião da El Al sofreu qualquer tipo de ataque terrorista. Nenhum deles caiu.
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amar a paz mas preparar para guerra