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Arqueologia

A alfabetização no Reino de Judá

Qual a percentagem de judeus alfabetizados que habitavam a Terra Santa, mais especificamente no Reino de Judá? Essa é a pergunta que pesquisadores da Universidade de Tel Aviv se propuseram a responder quando analisaram 18 textos antigos do posto militar de Tel Arad. Os resultados prévios das investigações foram divulgados nesta quarta-feira, 9, pela revista científica PLOS ONE, da Public Library of Science, de San Francisco, Califórnia. As informações foram extraídas de óstracos encontrados no sítio arqueológico de Tel Arad e datam de cerca de 600 aC.

Segundo a PLOS ONE, “o exame de documentos forenses e a análise de escrita algorítmica de inscrições do período bíblico judaico revelam um nível significativo de alfabetização” dos povos que ali se encontravam. Os pesquisadores da Universidade de Tel Aviv (TAU) concluíram que os textos foram escritos por não menos que 12 autores, o que sugere que muitos dos habitantes do Reino de Judá durante aquele período eram capazes de ler e escrever, e que a alfabetização não estava reservada a um grupo restrito de escribas.

O Jerusalem Post acrescenta que esta questão já era ponderada por diversos outros estudiosos, mas foi a equipe de arqueólogos da TAU quem primeiro conseguiu provar esta tese. Os pesquisadores da TAU usaram tecnologias de processamento de imagem e aprendizado, com equipamentos de última geração, para analisar os textos.

Uma vez decodificados, a TAU submeteu os textos à análise de Yana Gerber, uma perita aposentada, especialista em caligrafia forense. Gerber trabalhou por quase 30 anos no Laboratório de Documentos Questionados da Divisão de Identificação e Ciência Forense da Polícia de Israel e na Unidade de Investigações Criminais Internacionais da mesma corporação.

Além de contar com a larga experiência de Yana Gerber, o grupo de estudos contou ainda com o apoio de outros cientistas da mesma universidade. Fizeram parte da força tarefa responsável pelas investigações, cientistas do Departamento de Matemática Aplicada (DMA), da Escola de Física e Astronomia de Israel e do Departamento de Arqueologia e Civilizações do Antigo Oriente Próximo.

Embora haja divergências entre a forma como a Universidade de Tel Aviv e a Universidade Hebraica de Jerusalém interpretam certas descobertas arqueológicas dos tempos bíblicos, a questão aqui é a percepção do nível de literacia que havia na sociedade hebraica no período em que foram escritos os textos encontrados nos óstracos. Óstracos são fragmentos de cerâmicas normalmente pertencentes a antigos jarros ou vasos.

Para o Dr. Arie Shaus, do Departamento de Matemática Aplicada, as questões básicas são: “Quem escreveu esses documentos? Esta era uma sociedade onde a alfabetização era generalizada ou havia apenas um seleto grupo de pessoas alfabetizadas?”

Usando métodos forenses, Yana Gerber descobriu que os 18 textos foram escritos por pelo menos 12 escritores distintos, com vários graus de certeza. Gerber examinou óstracos originais de Tel Arad que se encontram no Museu de Israel, no Museu Eretz Israel, no Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv e nos armazéns da Autoridade de Antiguidades em Beit Shemesh.

“Investiguei os detalhes microscópicos dessas inscrições [que datam] do período do Primeiro Templo, a partir de questões de rotina, como ordens relativas ao movimento de soldados e fornecimento de vinho, azeite e farinha, por correspondência com as fortalezas vizinhas, às encomendas que chegavam à fortaleza de Tel Arad das altas patentes do sistema militar judaico” explicou Yana Gerber. A clareza dos textos é tanta que não representou muitas dificuldades de interpretação para aperita. “Tive a sensação de que o tempo parou e não houve um intervalo de 2.600 anos entre os escritores dos óstracos e nós”, concluiu Gerber.

O Dr. Arie Shaus explica no entanto que as pesquisas continuam. “É preciso entender que, atualmente, nossos algoritmos são de natureza ‘cautelosa’ – eles sabem identificar casos em que os textos foram escritos por pessoas com escrita significativamente diferente; em outros casos, eles se abstêm de conclusões definitivas.”

“Naturalmente, em termos de consequências, é muito interessante ver quem são os autores. Graças às descobertas, pudemos construir um fluxograma completo da correspondência sobre a fortaleza militar – quem escreveu para quem e a respeito de que assunto”, concluiu Shaus.

Por enquanto, as investigações apontam para o fato de que havia na época uma alta taxa de alfabetização, indicando que muitas pessoas tinham a capacidade de compilar textos bíblicos antes da destruição do Primeiro Templo pelos babilônios. Para os pesquisadores, esta descoberta abre uma grande porta para se aprender aprender muito mais sobre os autores bíblicos.

ANDS | PLOS ONE | JPOST

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