CONHEÇA MAIS SOBRE UM DOS GRANDES LÍDERES DA HISTÓRIA DE ISRAEL – PARTE VII
É um engano histórico achar que os Estados Unidos sempre apoiaram Israel. Na verdade, os primeiros aliados de peso do recém fundado Estado judaico foram a França e – Surpresa! – a Alemanha. A Alemanha por dever moral e a França graças a “transpiração” do jovem Shimon Peres.
Doze artigos ao longo de 12 meses para celebrar os 90 anos de Shimon Peres.
100% TRANSPIRAÇÃO
Há uma tese, atribuída ao brilhante inventor Thomas Alva Edison, segundo a qual “talento é a junção de 1% de inspiração com 99% de transpiração”. Não sei se Edison disse ou não isso, nem creio na proporcionalidade da equação, mas em se tratando de Shimon Peres sabemos que o mítico líder judeu é conhecido pela tenacidade com que se envolveu em cada uma das suas batalhas pessoais na defesa do Estado de Israel.
Hoje, quando se fala em Israel e seus aliados logo vem à mente os Estados Unidos da América (EUA). Como a potência norte-americana liderava a coalizão que ganhou a Segunda Guerra Mundial e algumas das suas tropas foram responsáveis pela libertação de milhares de judeus dos campos de extermínio, é natural achar que os EUA foram aliados incondicionais de Israel desde os primeiros momentos de sua reorganização como nação. Este é um engano histórico muito comum. Na verdade, os primeiros aliados de peso do recém fundado Estado judaico foram a França e – Surpresa! – a Alemanha. A Alemanha por dever moral e a França graças a “transpiração” do jovem Shimon Peres.
No efervescente mundo diplomático de então, enquanto a novíssima Organização das Nações Unidas (ONU) dava os primeiros passos em busca da manutenção da paz mundial, os EUA e a Grã-Bretanha (GB) representavam candidatos naturais ao posto de aliados de primeira hora do Estado de Israel. Os EUA por serem o lar de seis milhões de judeus e a Grã-Bretanha pelos históricos laços que mantinham com o Oriente Médio, afinal de contas de 1920 a 1948 Israel fora governado por britânicos, período no qual as terras judaicas ainda eram conhecidas pelo espúrio nome de Palestina.
Acontece que após o término da Segunda Guerra Mundial EUA e GB estavam em frangalhos, pois o esforço para derrotar as forças do Eixo e o delírio de Adolf Hitler havia saído caro demais para as duas grande potências. Como precisavam recuperar-se, militar e economicamente, e ainda estavam comprometidos com a reconstrução da Europa através do Plano Marshall, pouco espaço havia nas suas agendas estratégicas para dar suporte a uma pequena nação que estava a nascer no longínquo Oriente Médio. É nesse momento que surge Shimon Peres como hábil negociador internacional pró Israel.
A década de 50 do século passado foi riquíssima para Shimon Peres. Ainda bastante jovem – e praticamente desconhecido – começou a trabalhar nos bastidores pela organização militar do Estado de Israel. Consciente das dificuldades que teria com EUA e GB, Peres percebeu que não podia contar apenas com o mea-culpa dos alemães e na busca de outros apoiadores bateu às portas da França, cujos próceres esquerdistas simpatizavam com a organização camponesa do novo país, pois viam nos kibutizim israelenses o ideal de comunidade socialista.
Depois de perambular nos gabinetes e tatear pelos escaninhos da burocracia intelectualizada da França, Peres deu-se conta de que teria que aprender o idioma dos seus interlocutores que, como bem se sabe, prezam o uso da língua francesa quase que de forma xenófoba.
Como Peres inaugurou uma verdadeira ponte aérea entre Tel Aviv e Paris, a bordo do avião ele estudava, de forma autodidática, o idioma de Marcel Proust. Um dia, Jean Frydman, diretor da Rádio Europe One, prontificou-se a apresentá-lo a um assistente do então presidente francês Vincent Auriol. Tendo em conta que Peres era judeu e polonês, mas que estava acostumado a dialogar com americanos, ingleses e alemães, Frydman teve curiosidade e perguntou em que língua ele pretendia falar. Fingindo falsa inocência Peres indagou: “Mas, ele não fala francês?”
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Parte I: De Persky a Peres, 89 anos de amor por Israel.
Parte II: O oleh que virou sabra.
Parte III: Shimon Peres e a Mídia.
Parte IV: Um homem de livros para o povo do livro.
Parte V: Shimon Peres e a arte de reconhecer a realidade dos fatos.
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