Símbolos cristãos estão sendo substituídos por imagens do presidente chinês e a realização de cultos poderá custar o equivalente a 150 mil Reais em multas para os pastores.
DESCRER EM XI JINPING PODE CUSTAR MUITO CARO
Autoridades no sul da China estão obrigando os cristãos locais a substituir quadros alusivos a Jesus Cristo, cruzes e outros símbolos religiosos por imagens do Presidente Xi Jinping. Segundo o jornal South China Morning Post, de Hong Kong, milhares de cristãos de Yugan, na província de Jiangsi, sudeste do país, cederam à pressão das autoridades, alguns sob ameaças de corte dos subsídios de combate à pobreza. O SCMP estima que 10% da população em Yugan vive abaixo do nível da pobreza (com menos de um dólar por dia), uma percentagem que, curiosamente, coincide com a do número de cristãos na região.
As autoridades locais lançaram uma campanha que visa “transformar os crentes na religião em crentes no Partido [Comunista]”. Além da pressão financeira no boldo dos crentes, a campanha inclui ainda a entrega de centenas de retratos do Presidente Xi Jinping e de visitas dos líderes locais a comunidades cristãs para convencê-las a substituir as imagens religiosas pelas do presidente.
“Muitos camponeses são ignorantes, creem que Deus é o seu salvador, mas depois do trabalho dos líderes perceberão os seus erros e verão que já não se devem apoiar em Jesus, mas sim no Partido Comunista”, destacou um dos líderes locais citado pelo South China Morning Post (SCMP).
Xi Jinping é o mais forte líder chinês das últimas décadas, um estatuto consagrado durante o XIX Congresso do Partido Comunista Chinês, realizado no mês passado.
Na China, as manifestações religiosas católicas são apenas permitidas no âmbito da Associação Patriótica Chinesa, sendo que a igreja católica chinesa é aprovada pelo Estado e age independente do Vaticano.
Oficialmente, o número de cristãos na China continental rondará os 24 milhões, a maioria dos quais protestantes, o que não chega a dois por cento da população chinesa – 1.375 milhões de habitantes. Há, entretanto, uma possibilidade deste número ser bem maior.
O Governo chinês apela às igrejas católicas do país para aderirem ao “socialismo com características chinesas” e adotarem “a direção correta de desenvolvimento”.
Membros do Partido Comunista retirando mensagens religiosas de residências cristãs
IGREJAS CLANDESTINAS
Tem crescido em toda a China o número de igrejas subterrâneas, pequenas comunidades que se reúne discretamente nas residências dos próprios crentes. Ao jornal South China Morning Post, um crente de 22 anos que se apresentou como Enoch, comentou que a rotina dos seus irmãos de culto mudou muito nos últimos anos.
Até pouco tempo eles podiam orar numa sala onde havia claros elementos religiosos, mas atualmente os encontros acontecem em um apartamento em Zhuhai, província de Guangdong. Até novembro do ano passado eles ainda mantinham uma placa com horários e dias das reuniões afixada na porta do apartamento, mas há um ano acharam prudente removê-la.
“Estamos tentando parecer mais uma família que está aqui para conversar e beber chá, para que ninguém nos informe à polícia”, disse Enoch, um programador que converteu-se ao cristianismo há cerca de três anos.
Enquanto as organizações religiosas aprovadas pelo estado mantém-se estáveis ou diminuem em todo o país, as comunidades cristãs conhecidas como “igrejas domésticas” vêm crescendo por todos os lados, apesar de um monitoramento próximo e do assédio periódico das autoridades.
As igrejas subterrâneas chinesas se preparam para tempos mais difíceis ainda, pois a partir do dia 2 de fevereiro de 2018 entrará em vigor uma legislação ainda mais apertada, com previsão de punições pesadas para os infratores.
“Eu realmente estou com medo de que nosso pequeno grupo seja encerrado um dia”, disse Enoch ao SCMP. “Frequentei a igreja do estado, mas senti-me como se estivesse a ouvir uma palestra. Na igreja familiar as pessoas se conhecem e se amam”, concluiu o jovem crente.
O cristianismo protestante tem sido um dos movimentos de crescimento mais rápido na China, com o número de seguidores estimados entre 93 a 115 milhões, de acordo com o estudioso da Universidade de Purdue, Yang Fenggang. Menos de 30 milhões estão afiliados a igrejas oficiais, sendo que os demais pertencem a um grande número de igrejas não registradas que operam fora das salas de estar e edifícios da fábrica em violação dos regulamentos estaduais.
As novas disposições que começarão a vigorar em fevereiro acrescentam regras mais específicas e punições mais fortes para conter atividades religiosas fora das instituições oficiais.
Segundo as novas leis, os crentes que organizarem alguma reunião “não aprovada pelo estado”, estarão sujeitos a multas que vãos dos 100 aos 300 mil yuans. Estes valores equivalem a 50 e 150 mil Reais e 12 e 38 mil Euros. São cifras impossíveis de serem pagas pelas lideranças chinesas crentes, que são irmãos predominantemente pobres.
A lei prevê ainda muitas também para os participantes dos cultos, multas estas que vão dos 20 aos 200 mil yuans (de 9 a 98 mil Reais).
De 2012 a 2016, dezenas de milhares de cristãos chineses foram afetados pela perseguição do governo às igrejas subterrâneas, de acordo com o grupo de direitos cristãos China Aid, com sede nos EUA.
O grupo registrou mais de 500 prisões de líderes em 2015 e mais de 600 no ano passado;
Para evitar se tornar alvo, muitas igrejas subterrâneas estão tentando manter um número baixo de fiéis. Há alguns anos, a igreja frequentada pelo jovem Enoch chegou a ter 50 pessoas por culto. Desde o final de 2016 eles acharam prudente limitar o número de participantes a 20 irmãos e irmãs por encontro. Número que se tem mantido deste então.
ANDS | SCMP | OBSERVADOR
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